A notícia de que a atriz Vera Fischer terá uma foto inédita doada em formato de arte NFT despertou a curiosidade de quem ainda não conhece essa modalidade que vem ganhando espaço no noticiário de arte e tecnologia porque promete ser a moda da vez. Mas como funciona exatamente isso?
NFT é uma espécie de certificado digital, estabelecido via blockchain, que define originalidade e exclusividade a bens digitais. Sigla para "Non-fungible Token", os NFTs têm chamado a atenção após somas milionárias terem sido usadas para comprar esse tipo de ativo na internet. A tecnologia funciona como uma espécie de certificado virtual — como se a obra fosse, de fato, autografada — que atesta a unicidade e originalidade de uma peça de arte digital.
O Portal Eu, Rio! entrevistou Luciano Mathias, sócio e CCO da TRIO - Hub de Criação e Produção de Conteúdo Audiovisual, para saber mais sobre o assunto.
Luciano Mathias. Foto: Divulgação
Portal Eu, Rio!: O que é NFT e como ela pode revolucionar o mercado?
Luciano Mathias: NFT (non-fungible token/token não fungível) é um certificado digital, uma unidade de dados armazenada no blockchain, e que assegura a autenticidade de arquivos, que podem ser: imagem, música, video, tweet, texto publicado, gifs, cinemagraph e diversos outros formatos digitais. É um produto criptográfico (praticamente digital) único, não comparável a outro, de existência exclusiva e não "trocável". Representa algo único e exclusivo, que não pode ser trocado. NFTs atuam como uma prova de origem/"colecionáveis digitais". Os NFTs não só podem, como já estão revolucionando o mercado de arte, pois tem por objetivo gerar "escassez digital". A escassez digital refere-se ao controle sobre a abundância e existência de ativos ou recursos digitais. Uma situação que pode ser muito benéfica no mundo digital, pois pode nos permitir aumentar o valor de qualquer ativo digital, limitando seu número e existência.
PER: Quanto pode valer um ativo digital que pode ser facilmente duplicado e do qual pode haver uma existência infinita?
LM: A verdade é que valeria bem pouco ou nada, porque seria fácil de criar e acumular. O NFT vem para suprimir essa "abundância digital" tornando os ítens mais restritos.
PER: Por que vale tanto uma foto vendida por NFT?
LM: O que faz a Monalisa ser algo tão caro e exclusivo? Simples. É a própria Monalisa, a original. Não importa o quanto refletirmos sobre isso, se vale ou não, a Monalisa, Noite Estrelada, O Grito... cada peça é uma coisa única, original, tangível e, por si só, incomparável a qualquer outra. Um NFT não é igual ao outro, tanto no valor como nas propriedades do mesmo. Cada token possui um "hash digital" — função que converte letras e números em uma frase criptográfica — que se distingue de todos os outros tokens de seu tipo. Quanto mais "exclusiva" uma coisa é, mais ela vale em NFT. É claro que cada artista avalia sua própria arte e o quanto quer por ela e se há procura e aceitação, então ela passa a valer.
PER: Como surgiu? Quando começou a ser usada no Brasil?
LM: Apesar do boom, o NFT não é algo novo. Ele foi criado em 2012 na rede do bitcoin, embora hoje ele seja operado fortemente na rede ethereum. O NFT surgiu com a apresentação da Coloured Coins, também conhecida como Bitcoin 2.x, uma criptomoeda que não vingou. O Brasil também já está entrando nessa onda e temos até alguns exemplos:
Coélhek. - André Abujamra/ Uno de Oliveira
André Abujamra vendeu o que deve ser o primeiro NFT musical brasileiro. Foi em parceria com Uno de Oliveira, artista plástico com forte experiência em crypto art. Os dois são os orgulhosos criadores do duo animação-e-música Coélhek. É a primeira parte de uma produção de oito tokens, todos com um assunto em comum: o valor do neurônio.
"Fronteira Físico/Digital" / Bel Borba
O primeiro leilão de arte em NFT 100% brasileiro vai acontecer em junho deste ano. A obra escolhida para inaugurar o uso da modalidade por aqui é a do artista plástico baiano Bel Borba, intitulada "Fronteira Físico/Digital"
A tela, pintada especialmente para a ação, foi digitalizada e será recortada em cem partes, tanto fisicamente quanto no ambiente virtual. O leilão brasileiro será realizado por meio da plataforma InspireIP.
No leilão brasileiro, o lance mínimo é de US$ 600 (cerca de R$ 3.200) por peça. O vencedor receberá dois exemplares: o pedaço digital em uma carteira de criptomoedas e o material, contendo um QR Code, que será enviado para o endereço do comprador (no Brasil ou no exterior).
Get Ready / movie frames | TRIO HUB
Lançamos um projeto autoral, o qual eu mesmo co-criei e dirigi, onde reforçamos a importância da vacinação no momento atual e, simultaneamente, lançamos uma peça extraída do filme e trilha sonora original que já está sendo vendida por NFT. Toda a renda arrecadada será revertida para ONGS que trabalham junto ao governo para acelerar o processo de vacinação.
Essa semana disponibilizaremos o link no nosso site e perfil do Linkedin.
https://rarible.com/token/0xd07dc4262bcdbf85190c01c996b4c06a461d2430:605936?tab=owners
PER: Qual será o impacto nos negócios, sobretudo no mercado de arte?
LM: "O NFT já começou a revolucionar o sistema financeiro como conhecemos, principalmente o mercado de arte como um todo. Trará oportunidades inimagináveis para quem realmente tem talento e muitas vezes não consegue viver com os rendimentos de suas obras. "Yield farming" é a busca pela melhor oportunidade de rendimentos possível em plataformas cripto. Também conhecido como mineração de liquidez, é uma forma de gerar recompensas com os ativos de criptomoedas. Em termos simples, significa bloquear criptomoedas e obter recompensas. Um termo ainda um pouco complicado e complexo de explicar. O NFT favorece a ampliação do yield farming e faz crescer a oferta e a demanda. Temos diversos marketplaces já efetuando a venda de NFTS, alem das casas de leilão que estão se especializando nisso. No futuro, NFTs irão abrir a porta para a digitização de todos os direitos de propriedade intelectual e tokenização de todos os ativos. Eu imagino uma grande galeria digital aberta a todos, democratizando de uma forma completamente disruptiva o mercado de arte como vemos hoje em dia.