A emoção e a revolta marcaram a homenagem póstuma à juíza Patrícia Acioli nesta quarta-feira, no aniversário de dez anos de seu assassinato, com 21 tiros na porta de casa, no bairro de Piratininga, em Niterói, por policiais militares. O ato foi promovido pela ONG Rio de Paz e teve a presença de familiares da magistrada. No evento, foram colocadas rosas na árvore plantada há dez anos, no calçadão da Praia de Icaraí, em frente ao prédio da Reitoria da UFF.
Para o presidente da ONG, Antônio Carlos Costa, o crime foi uma tentativa de silenciar a justiça.
"O assassinato da juíza Patrícia Acioli, ocorrido há exatamente 10 anos, representou um golpe frontal desferido contra valores inegociáveis, uma vez que da sua preservação, defesa e efetividade dependem todo o sentido da vida em sociedade e sobrevivência do estado democrático de direito. Mataram covardemente uma mulher. Menosprezaram o sentimento da sua família, a começar pelos seus filhos, até hoje inconsoláveis. Tentaram silenciar a justiça. Era do conhecimento de todos o quanto ela combatia de modo destemido os crimes praticados por agentes de segurança pública do Rio de Janeiro. Quem matou, planejou e celebrou a morte dessa brava brasileira e queria continuar agindo impunemente ao arrepio da lei. Em suma, naquela noite trágica, a juíza Patrícia Acioli e a nossa democracia receberam 21 tiros. Jamais poderíamos pensar, 10 anos atrás, que a democracia brasileira enfrentaria os problemas que hoje enfrenta, com aquele que ocupa o mais alto posto da República celebrando memória de torturador, fomentando golpe militar e estimulando o abuso de autoridade. Por isso, que o sangue derramado em Piratininga, no dia 11 de agosto de 2011, deve ser honrado por todos nós. Sem homens e mulheres no nosso país como a querida Patrícia, a República está perdida", afirmou.
Entre os familiares, estavam as filhas de Patrícia, Ana Clara Acioli, Maria Eduarda Acioli e o pai delas e ex-marido da juíza, o advogado Wilson Júnior.
Patrícia foi executada por 11 PMs como uma vingança por ela ter condenado à prisão vários policiais militares lotados no 7º BPM (São Gonçalo), por forjar autos de resistência em operações. Todos os envolvidos foram condenados pelo crime e se encontram presos. Porém, o mandante, o coronel Cláudio de Oliveira e o tenente Daniel Benitez, um dos que atiraram em Patrícia, estão ainda incorporados à PM e recebendo salário normalmente, mesmo presos. Somente os praças que participaram foram expulsos da corporação.
Ouça no Eu, Rio! (eurio.com.br) o depoimento do presidente do Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, sobre o assassinato da juíza e a longa impunidade dos algozes da magistrada.