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Decisão correta

No lugar de leilão, cariocas e turistas poderão conhecer a biblioteca de Carlos Lessa

Publicação de filho do economista e ex-reitor da UFRJ, morto em 2020, fez Prefeitura do Rio se mobilizar para adquirir os mais de 15 mil volumes da coleção, ainda sem destino confirmado


O economista Carlos Lessa. Foto: Facebook/Reprodução

O legado do economista Carlos Lessa, morto em 2020, aos 83 anos, vai fazer parte do patrimônio municipal do Rio. Com a revelação de que a Prefeitura pretende adquirir o arquivo deixado por ele, reunindo mais de 15 mil obras, a expectativa agora paira na instituição que vai receber o acervo.

A notícia veio à tona após Rodrigo Lessa, filho do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgar no sábado (20), em uma rede social que congrega amigos do pai, a realização de leilão onde seria arrematado o arquivo pessoal dele. No final de 2020, Rodrigo foi procurado pelo atual secretário municipal de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, que "manifestou interesse", mas a expectativa diminuiu nos primeiros meses de governo.

"Começamos uma conversa, mas imagino que o inicio do governo deva tê-lo tomado de mil tarefas e a conversa parou. A rigor, acho que foi uma decisão muito acertada do prefeito, posto que meu pai, como intelectual, foi um pensador apaixonado pelo Rio e pelo Brasil. Em seu livro, 'O Rio de todos os Brasis', ele explora a ideia do Rio como o espaço onde se forjou a identidade brasileira", conta.

Capa de "O Rio de todos os Brasis" (Record). Imagem: Divulgação

Antes de assumir o BNDES, onde ficou por um ano e dez meses, o carioca Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre julho de 2002 e março de 2003, indicado para o posto por 85% da comunidade acadêmica. No dia da posse, conforme relato no Conexão UFRJ -site de notícias da universidade-, ele "entregou ao então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, o que denominou 'Plano Emergencial para a UFRJ', propondo ações imediatas para eliminar riscos diretos à integridade física" encontrados nos diversos campi universitários. À frente da UFRJ, defendeu a autonomia universitária e é lembrado até hoje pela sugestão de criar um bloco de carnaval, o Minerva Assanhada, inspirado na efígie da instituição. Na época, a universidade decretou lutou oficial de três dias, em reconhecimento às contribuições que ele deu à UFRJ e ao Brasil.

Professor Titular da casa, Carlos Lessa foi gestor em diversas organizações estatais e privadas, do Itamaraty ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na última década, investiu na área de cultura e entretenimento ao se tornar proprietário do Casarão Ameno Resedá, casa de espetáculos reformada antes da reabertura por volta de 2012 no Catete Concluiu a graduação em Ciências Econômicas também na UFRJ, em 1959, o mestrado em Análise Econômica pelo Conselho Nacional de Economia e o doutorado em Ciências Humanas na Unicamp, 21 anos após o bacharelado.

"Com esse ato, o prefeito homenageia ao mesmo tempo a população da cidade, que terá acesso ao acervo da biblioteca, e ao meu pai", destaca o filho orgulhoso, que trabalha como músico: compositor, arranjador, produtor musical e instrumentista. Bandolinista e violonista, ele está lançando o sétimo álbum, intitulado "No jeito". Clique aqui para conhecer o trabalho do artista.

O músico Rodrigo Lessa. Foto: Arquivo pessoal

O presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon), Lincoln de Abreu Penna, exalta o gesto da Prefeitura do Rio. "O Lessa sempre foi muito querido no Modecon e nunca deixou de participar de eventos quando por nós solicitada sua presença. Creio que a preservação desse arquivo é de grande importância para a memória dos que se batem em defesa da soberania nacional e pela memória desse grande cidadão brasileiro, intelectual e professor de qualidades admiradas por todos e todas que com ele conviveram".

Amigo de Lessa, o engenheiro, ex-senador por três mandatos e ex-prefeito do Rio, Roberto Saturnino Braga, saúda a iniciativa de municipalização do acervo pessoal do economista. "Carlos Lessa foi uma das figuras mais destacadas do Rio pela sua capacidade de observação e exposição. Acho que é um patrimônio do Rio e, por conseguinte, eu aplaudo essa assunção. Sempre privamos muito de discussões, sobre o Brasil, a América Latina e o mundo", detalha ele, que governou a cidade de 1986 a 1988 e foi o primeiro eleito por voto direto para o cargo após a ditadura. "Suas palavras devem ser reanalisadas, rediscutidas, porque tem muita coisa privilegiada que ele disse durante toda a vida".

O Centro Celso Furtado (Cicef), do qual Carlos Lessa foi sócio-fundador, também se manifesta sobre a iniciativa, fruto de desejo pessoal do prefeito Eduardo Paes (PSD), e destaca a trajetória dele bem como sua relação com Furtado. "O Centro Celso Furtado vê com enorme alegria a encampação da biblioteca do professor Carlos Lessa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Sócio-fundador do Centro, foi um dos maiores economistas da tradição estruturalista cepalina [referência a Cepal, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe], da qual Celso Furtado é o grande fundador, patrono e inspiração. Importante ressaltar que Lessa foi um homem de cultura enciclopédica e um apaixonado pelo Rio de Janeiro, paixão esta que se revelou através da publicação de livros, palestras e intervenções pessoais na preservação do nosso patrimônio arquitetônico", afirma o também economista Carlos Pinkusfeld Bastos, diretor-presidente do Cicef. "Essa grande biblioteca reflete a alma de um grande economista e intelectual brasileiro e esperamos que o livre acesso da população inspire nos jovens a mesma paixão do mestre pelo Brasil e pelo Rio de Janeiro, especialmente pela urgência de políticas desenvolvimentistas que potencializem sua fé inquebrantável nos brasileiros e nos seus amados cariocas".

Procurada, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano enviou uma nota à reportagem detalhando a decisão e os "trâmites burocráticos" necessários antes de definir o destino da coleção.

"A Prefeitura do Rio, através da Secretaria municipal de Planejamento Urbano, já deu início aos trâmites burocráticos para a aquisição do acervo de mais de 15 mil livros do economista e intelectual, Carlos Lessa. A secretaria também já começou a planejar o local onde a coleção será guardada. A decisão para a compra dos títulos foi tomada pelo prefeito Eduardo Paes no final de semana", diz um trecho do texto.

O titular da pasta, Washington Fajardo, também prestou deferência a Carlos Lessa, neste momento em que a memória e o legado dele voltam a ser exaltados. "Carlos Lessa foi um intelectual e economista comprometido com as coisas do Rio, com o desenvolvimento do país, com o Centro histórico da cidade, a ponto dele mesmo se converter num investidor e recuperar várias áreas do Centro do Rio, como parte da Rua do Rosário. Ele deixou obras raras e muitas publicações sobre economia, desenvolvimento e história. Esta é uma biblioteca de valor público", afirmou.

Ouça, no Podcast do Portal Eu, Rio!, a opinião do ex-prefeito do Rio, Roberto Saturnino Braga, sobre a aquisição do acervo de Carlos Lessa pela atual gestão da Prefeitura.

Carlos Lessa Memória Prefeitura do Rio BNDES UFRJ

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