Foi aprovado pela Alerj, nesta terça-feira (6), o Projeto de Lei nº 4392/2018, de autoria do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT/RJ) que declara o Movimento Black Rio como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A intenção é valorizar a história da cultura negra. O movimento surgiu no final dos anos 60, durante um baile no clube Astória, quando foi tocada somente música de artistas negros.
"O movimento surgiu com a intenção de desenvolver uma geração que tinha pouco acesso à cultura naquela época. O Black Rio merece ser colocado no seu devido lugar na história cultural do Estado do Rio de Janeiro por sua contribuição para a formação de uma geração que tinha opções de lazer restritas", disse o deputado Waldeck sobre o PL.
A iniciativa deste projeto é do Sir Dema, Dj, produtor e pesquisador do movimento. O Dj Dema, quando jovem, frequentava os bailes e observava todo o ambiente de música, dança e resistência que havia nos encontros. Hoje, o Dj pesquisa sobre o movimento Black Rio e afirma que é preciso dar o devido valor ao movimento que está às vésperas de completar 50 anos.
"A importância deste projeto é que o Estado reconheça publicamente o movimento. Fazendo com que essa memória seja resgatada, preservada e contada da forma mais fiel possível. Com este reconhecimento, não podem dizer que o movimento Black Rio foi um movimento sem expressão", declara Sir Dema.
No final dos anos 1960, a juventude pobre das periferias do Rio de Janeiro realizava nos finais de semana, festas nas varandas de suas casas para ouvir música, dançar e se divertir. Na medida em que essas festas foram crescendo, surgiu a necessidade de ocupação de espaços maiores. O dia 11 de novembro de 1969 é considerado o marco zero da história do movimento. Foi quando aconteceu, no Clube Astória, o primeiro baile em que o discotecário tocou apenas músicas cantadas por artistas negros.
O baile de 1969, realizado por Ozéas Moura dos Santos, foi a pedra fundamental do que se tornaria o Movimento Black Rio. Esse formato de baile se espalhou por todo o Rio de Janeiro e milhares de jovens negros e pobres passaram a seguir as suas equipes de som em busca de diversão, conhecimento e também de uma identidade cultural que, mesmo reprimida, começava a transparecer nas suas atitudes, nas suas vestimentas, no seu estilo jovem negro de ser.
"A time-line do movimento negro é superinteressante não só pelo aspecto cultural, político que se apresentava na época. A atitude, a concepção e a música eram ferramentas usadas na construção racial e a busca da autoestima da comunidade negra. Esses elementos eram parte do movimento Black Rio, por isso, ele foi tão marcante", declarou Asfilófilo de Oliveira Filho, o Dom Filó, ativista do movimento Black Rio.
Os bailes de fim de semana reuniam milhares de jovens nos lugares mais longínquos do Rio de Janeiro. Equipes de som, como Tropa Bagunça, Uma Mente Numa Boa, Atabaque, Revolução da Mente, Cashbox, Soul Grand Prix, Black Power, A Cova, Furacão 2000, Dynamic Soul, entre tantas outras, foram fundamentais na formação cultural destes jovens. Big Boy, Cidinho Cambalhota, Messiê Limá e Ademir Lemos traziam as novidades em audiovisual dos Estados Unidos da América.
No rastro do movimento, surgem nomes como Gerson King Combo, Tony Tonado, Carlos Dafé, Banda Black Rio, União Black e, então, a cena fica completa. A ditadura monitorava bailes, discotecários, produtores, artistas, em busca de uma explicação para o que acontecia naquelas manifestações da cultura negra. O Movimento Black Rio não é apenas som que buscava não apenas reproduzir o que vinha dos Estados Unidos, mas também valorizar ancestralidade africana, o que ajuda a fortalecer a expansão do movimento negro no país.