A falta de educação e conscientização da população somados ao descaso da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), quanto à questão de fornecimento precário de Equipamento de Proteção Individual (EPI), são os principais causadores de acidentes que afetam os trabalhadores de limpeza urbana no dia a dia de suas atividades. Muitas vezes, ocasiona doenças graves, amputação de um membro e até mesmo a demissões.
Segundo o gari e porta voz do Movimento "Círculo Laranja", Célio Viana, 51, e concursado há 15, o investimento com o profissional de carreira não está sendo aplicado como deveria. " A Comlurb é o terceiro maior orçamento do município do Rio de Janeiro e assim mesmo não temos equipamentos básicos como luva, uniforme, máscara e capa de chuva", disse ele, em entrevista ao Portal Eu, Rio!.
Quais são os principais causadores de acidentes para os trabalhadores de limpeza urbana?
Seria a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPIS) e o descarte do lixo feito de forma incorreta pelo cidadão, que não armazena corretamente seus resíduos cortantes e perfurantes como vidros quebrados, lâmpada fluorescente, agulhas, pregos, pedaços de vergalhão, pedaços de azulejos, entre outros.
Isso afeta diretamente a saúde dos trabalhadores da varredura e coleta, que também são atingidos pela irresponsabilidade e falta de atenção de motoristas e motociclistas.
Nós não temos acesso ao número de garis acidentados por mês ou ano, pois essas informações são restritas aos gestores. Mas lhe garanto que são muitos, mas nem todos são registrados e computados.
No caso de um material perfurante, como o cidadão pode proceder para que seja eliminado o risco de acidente?
É preciso que esse tipo de material citado não seja colocado junto ao lixo domiciliar. O cidadão deve embalar em jornal e dispor em caixa de leite ou de suco, em garrafa plástica rígida (pote de sorvete ou garrafa pet) ou em lata com tampa. Se possível, sinalizar o perigo.
O que a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPIS) pode acarretar no dia a dia do gari?
A Comlurb é o terceiro maior orçamento do município do Rio de Janeiro. E dentro desse orçamento, que são milhões, estaria incluído o gasto com o Equipamento de Proteção Individual (EPI). Só que não é bem assim que acontece, pois até agora não sabemos o que é feito com esse dinheiro. Pelo visto, a maior parte está indo para as empresas terceirizadas inseridas na Comlurb.
Então, com a falta de Equipamento de Proteção Individual, os funcionários estão sobrecarregados e trabalham por três, devido à escassez de profissionais qualificados (garis).
Ou seja, falta maior atenção das autoridades competentes dos órgãos públicos, dos Engenheiros de Segurança do Trabalho, Médicos do Trabalho e Técnicos de Segurança do trabalho da Comlurb, em fiscalizar e fazer cumprir as Normas Regulamentadoras (NRs), relativas à segurança e medicina do trabalho, que deveria ser de observância obrigatória na fiscalização e na garantia da saúde desse profissional.
Por mais que os trabalhadores exponham a situação gravíssima nas reuniões mensais da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) - grupo formado por funcionários (garis) eleitos e representantes da direção da companhia -, nada muda, resultando, assim, em inúmeras doenças e acidentes para muitos trabalhadores, que acabam sofrendo punições arbitrárias, levamdo-os muitas vezes a demissões.
É bom lembrar que o uniforme dos garis faz parte do EPI, sendo assim, tem que haver a troca dessa vestimenta, para que os funcionários não precisem trabalhar com a roupa rasgada e velha.
Esses acidentes de trabalho ocasionam que tipo de doença ao gari?
Dependendo da gravidade pode levar à amputação dos membros inferiores e superiores. Entre as doenças ocupacionais, que podem acontecer com os garis, podemos destacar problemas de coluna, tendinite, estresse, surdez, lombalgia, alcoolismo, infecção urinária, câncer de pele, cegueira, etc.
Quais os tipos de problemas a saúde pública, que o descarte errado do lixo pode acarretar?
Pode acarretar sérios problemas, porque dissemina doenças como, por exemplo, a leptospirose, amebíase, diarreias infecciosas, parasitose. E ainda servem de abrigo para ratos, baratas, lacraia e insetos. Além de contaminar os lençóis freáticos por meio do chorume (liquido altamente tóxico, que resulta da composição da matéria orgânica associada com os metais pesados).
Vocês fazem campanha de conscientização para alertar a população?
Sim. A Comlurb faz campanha de conscientização com o Grupo "Chegando de Surpresa", que é formado por garis músicos e, também, através da panfletagem. Mas é preciso ir além.
Penso também que as escolas públicas e privadas deveriam ter uma grade de Educação Ambiental, para contribuir na conscientização do Meio Ambiente. Só assim teríamos um país voltado para a Sustentabilidade sem agredir o planeta. Uma forma de preservar e deixar um legado positivo para a geração futura. Ainda há tempo.
Qual a importância e o que significa o "Círculo Laranja", do qual você é porta voz?
Círculo Laranja é um movimento e também uma associação. É uma iniciativa para que o gari, que já éprotagonista da cidade no seu dia a dia, também seja participante na discussão da cidade que queremos.
Neste espaço, os garis debatem a cidade, o meio ambiente, a saúde, a educação, a política e outros temas. Tudo dentro da horizontalidade, que é atravessado por estudantes, professores, pesquisadores, ambientalistas e com quem quiser chegar.
Hoje no Círculo temos o Educaponto, que é o pré-vestibular aberto a todos, em cooperação com a Educafro, uma ONG que tem como objetivo lutar pela inclusão de negros e pessoas oriundas de escolas públicas ao ensino superior. Daí sua parceria com várias universidades, resultando em um trabalho social, onde se consegue distribuir bolsas de estudo com até 100% de desconto. Também temos o Ecoponto que é um posto de recolhimento de óleo e oficina para sua reciclagem.
No Círculo Laranja temos o lema: "Andamos perguntando e mandamos obedecendo".