A cada véspera de Olimpíadas ou Copa do Mundo, sempre há atletas que sofrem lesões e acabam perdendo a disputa mais importante de suas vidas. Esses dramas humanos fazem parte da trajetória daqueles que exigem o máximo do corpo e acabam colapsando no momento menos propício.
“O corpo, após uma atividade física, nunca está igual ao momento do início da mesma. Mesmo para um atleta, a atividade física desgasta o organismo, gasta energia, lesiona ossos e musculatura”, afirma o educador físico Luiz Roberto Gonzaga.
No caso de um atleta que toma uma pancada, sofre uma contusão, uma contratura ou precisa engessar a perna, há também o tempo necessário para a total recuperação. E, com isso, surge o perigo de perder competições importantes.
“Um exemplo prático é quando se engessa uma parte do corpo. Seu corpo vai fazer o que? Jogar aquela musculatura fora, criar uma certa rigidez. Porque ele começa a se adaptar à falta de mobilidade. E um atleta não pode perder condicionamento, perder mobilidade”, conclui Luiz Roberto.
Os dramas pré-Copa do Mundo do Catar afetam até mesmo os brasileiros. O lateral-esquerdo Guilherme Arana, do Atlético-MG, estava cotado para ser convocado por Tite até que sofreu uma séria lesão no joelho esquerdo em setembro que o afastará dos gramados até o próximo ano.
O atleta passou por cirurgia, precisou andar de muletas e viu o sonho de participar de uma Copa pela primeira vez virar pó. “Fiquei um pouco triste sim, são coisas da vida, são coisas que só jogador de futebol pode passar. Muitos tiveram lesão antes de Copa do Mundo”, disse em entrevista a uma rádio de Minas Gerais.
Philippe Coutinho, do Aston Villa (Inglaterra), também viu suas chances de ir ao seu segundo Mundial terminarem com uma lesão muscular na coxa esquerda. Apesar de ter sua figurinha no álbum da Copa, ele está de fora da lista de Tite. Sua reação foi publicada em seu perfil no Instagram: “Como vocês sabem tive uma lesão que me afasta dos gramados por algumas semanas. Eu olho pra frente, focado em me recuperar da melhor forma e voltar mais forte”.
A França, forte candidata ao título, também teve, até o momento, duas baixas. Paul Pogba, da Juventus (Itália), sofreu uma lesão no joelho direito, terá que ser operado e só voltará aos gramados em 2023. Também pelo Instagram, o jogador se manifestou, sem esconder a desilusão: “Deus tem um outro plano pra mim”.
Outro que viu o corpo fraquejar quando não podia foi o volante Kanté, do Chelsea (Inglaterra). O veloz jogador francês, um dos destaques da campanha vitoriosa na Rússia, em 2018, teve uma lesão na parte posterior da coxa em agosto. Não conseguiu se recuperar somente com fisioterapia e teve que ser operado em outubro.
A boa equipe de Senegal se vê com dois problemas às vésperas do Mundial. Perdeu o lateral Bouna Sarr, que lesionou o tendão da rótula do joelho esquerdo e passou por cirurgia, e acompanha com atenção a situação do genial Sadio Mané, com uma contusão no osso da fíbula da perna direita. Mesmo com o problema, a comissão técnica decidiu convocá-lo, acreditando numa recuperação tão rápida quanto milagrosa.
Casos assim são comuns. O Brasil já perdeu craques às vésperas de Mundiais. Quem não se lembra do corte de Romário na convocação para a Copa de 1998, na França, por causa de um edema na batata da perna? Ao contrário dos jogadores mais polidos e resignados de hoje em dia, o Baixinho saiu disparando após o corte: “Infelizmente, na cabeça da comissão técnica, não tiveram essa paciência. Eles não devem ter confiado na minha recuperação”. Para provar que estavam errados, Romário voltou a campo pelo Flamengo bem antes do final da Copa.
O atacante Careca também ficou de fora do Mundial da Espanha, em 1982, e Telê Santana passou a confiar a camisa 9 ao menos técnico Serginho Chulapa. O volante Emerson sofreu uma luxação no ombro direito num treino, quando brincava de goleiro, e foi cortado do elenco do penta em 2002.
Mas há casos em que o esforço pela recuperação vale a pena. O craque Zico fez um esforço enorme para estar na Copa do Mundo do México, em 1986, após operar os dois joelhos. Em 1970, Tostão foi operado da vista em Houston (Estados Unidos), por causa de um descolamento da retina a apenas quatro meses do Mundial, e fez seu primeiro treino com bola a apenas dois meses antes da estreia na Copa. Voltou do México como tricampeão.
E Ronaldo, na Copa de 2002, superou, após muita dor, o rompimento do tendão e dos ligamentos do joelho e uma longa inatividade de quase dois anos para dar a volta por cima: “Trabalhei dois anos e meio para me recuperar das lesões, e Deus reservou esse dia especial para mim e para o Brasil”, declarou após levantar a taça de pentacampeão do mundo em Yokohama (Japão).
Agência Brasil