O amor de contos de fadas brasileiro começa com uma tragédia. Em 1509 naufragou um navio, no que viria ser conhecido como “Rio Vermelho”, muito próximo da “Ponta do Padrão”, conhecida hoje como “Farol da Barra”, na entrada da Baía de Todos os Santo, no coração da atual Cidade de Salvador (atual porque ainda faltavam 40 anos para a fundação de Salvador. Na realidade, ainda faltavam mais de 25 anos para que Portugal desse início à colonização do Brasil).
Tanto que aquele navio que naufragou, vitimando todos os seus tripulantes, com exceção de um, era um navio francês. Embora, a bordo dele estivesse um marujo português de 17 anos de idade, chamado Diogo Álvares. Este o único sobrevivente.
Diogo acordou entranhado nas pedras às margens do Rio Vermelho, cercado por nativos e por moreias (enguias), as quais os indígenas chamavam de Caramuru. Os habitantes desta região eram os índios Tupinambás, pertencentes a grande família Tupi.
Diogo que, batizado como Caramuru, foi adotado pela tribo e logo casou-se com a filha do chefe Taparica, chamada Paraguaçu. Um fato curioso, é que entre os Tupis não existia um cacique, mas um Morubixaba, que era o chefe principal da tribo. O prefeito da tribo.
Os tupinambás aceitavam a poligamia, dessa forma, Caramuru poderia ter escolhido mais de uma esposa. No entanto, a ligação que tinha com Paraguaçu era tão intensa, que Caramuru ficou ligado somente a ela pelo resto de sua vida.
Moraram na área que hoje é conhecida como Alto da Graça, região nobre de Salvador. Em 1524 chega ali uma expedição francesa, no qual fazia parte Jacques Cartier, O Descobridor do Canadá. E no navio de Cartier, um dos maiores navegadores franceses de todos os tempos, embarcou Diogo Álvares Caramuru e Paraguaçu, rumo à França, onde casaram-se na lendária Catedral de Saint Malo, no dia 30 de julho 1524.
Para que o casamento ocorresse, Paraguaçu foi batizada aos moldes católicos, recebendo o nome de Catharina Paraguaçu, em homenagem à mulher de Jacques Cartier, Catherine des Granches. Ambos, inclusive, foram padrinhos de casamento de Caramuru e Paraguaçu. Dentre os presentes da cerimônia de casamento estava o Bispo Sardinha, que viria a ser o Primeiro Bispo do Brasil.
Anos depois, em 1531 Caramuru e Paraguaçu já estava, de volta a Bahia, para o seu querido Alto da Graça, onde habitava um tejupá (uma espécie de cabana triangular), feita da palmeira pindorama (Pindorama, inclusive, era como os indígenas chamam o Brasil). Neste ano chegou também nesta região, o navegador Martin Afonso de Sousa, na primeira grande expedição portuguesa colonizadora no Brasil, onde o país foi divido em capitanias hereditárias.
Em 1535 Caramuru salva os tripulantes de uma expedição espanhola que haviam naufragado na região. Em troca, recebe uma canoa europeia e dois tonéis de vinho. Essa expedição era liderada pelo navegador Simão de Alcobaza, que hoje nomeia uma grande rua no Rio de Janeiro (Rua Alcobaça, no bairro da Pavuna).
O casal ficou conhecido entre os navegantes de toda a Europa como os que acolhiam os navegantes, intermediavam as transações com os tupinambás e resgatavam os náufragos. O reconhecimento de Caramuru era tamanho, que os mapas franceses de 1530 chamavam atual Ponta do Farol da Barra, era chamada de “Point de Caramuru”.
Cinco anos depois, chega na região o donatário da Capitania Hereditária da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, conhecido como O Rusticão. Francisco Pereira passa a ser dono de uma terra tupinambá, uma terra tribal ancestral, expulsando Caramuru do Alto da Graça, e lhe entregando uma sesmaria. Ela começa no Rio dos Seixos, hoje morto, apenas um córrego de esgoto que corre entre a Cidade de Salvador, até a Ponta do Padrão, no Farol da Barra.
Em 29 de março de 1549, com o fim do sistema de Capitanias Hereditárias, chega na Bahia, Tomé de Sousa, para estabelecer o Governo Geral do Brasil, que despreza o Casal Caramuru e Paraguaçu. Durante este período, Caramuru era visto com desdém.
Caramuru morreu em 5 de outubro de 1557 deixando uma longa descendência, inclusive que virariam figuras importantes na genealogia baiana. Paraguaçu, sempre devota e companheira à ele, converteu-se ao cristianismo, inclusive tendo criado a primeira igreja na Bahia, morreu em 26 de janeiro de 1583.
Encerra-se assim um dos casos de amor mais maravilhosos da história da humanidade e, porque não, o caso de amor mais brasileiro de todos.