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Estresse afeta o desempenho profissional dos seguranças de empresa privada

Problemas econômicos e segurança pública são algumas das causas

Por Leonardo Pimenta em 16/02/2019 às 23:17:08

A Polícia Federal exige que o candidato a vigilante faça um treinamento teórico e prático de 200 horas no total. Foto: Divulgação/Grupo Souza Lima

A atuação dos vigilantes e dos seguranças de empresas de segurança privada passou a ser questionada nessa semana após o incidente, na última quinta-feira, onde um rapaz morreu asfixiado por um golpe de artes marciais aplicado pelo segurança de um supermercado, na Barra da Tijuca. A cena que chocou muitas pessoas e que pode ser vista nos principais noticiários levantou dúvidas sobre o preparo e o estado emocional desses profissionais da segurança.

Segundo dados do Ministério Público do Paraná, hoje no Brasil existem cerca de 1,7 milhão de vigilantes cadastrados na Polícia Federal e somente 455 mil possuem a carteira assinada. A quantidade é superior a de agentes da segurança pública, que é cerca de 602 mil, de acordo com os dados repassados pelos Estados ao Ministério da Justiça.

O Portal Eu, Rio conversou com Marco Cesar Correa, psicólogo e funcionário do Curso de Formação de Vigilantes Fortress, que nos explicou como é avaliada a aptidão do candidato à área de segurança privada e como funciona o curso de Formação de Vigilantes.

Segundo Marco, a Polícia Federal exige, com base na Lei 7102/83 e na Portaria 3233/2012, que o candidato a vigilante deve ter acima de 21 anos de idade, não ter antecedentes criminais, ter, no mínimo, a 4ª série do ensino fundamental e passar por um treinamento teórico e prático de 200 horas no total. O aluno, antes de realizar o curso de formação, passa por uma avaliação psicológica e médica, onde se verifica se ele está emocionalmente e fisicamente apto para realizar o curso.

Os alunos têm aulas de Noções de Segurança Privada, Legislação Aplicada, Sistema de Segurança Pública e Crime Organizado, Direitos Humanos e Relações Humanas no Trabalho, Prevenção e Combate a Incêndio e Primeiros Socorros, Educação Física, Defesa Pessoal, Armamento e Tiro, Vigilância, Rádio Comunicação e Alarmes e Criminalística e Técnica de Entrevista. Todas as disciplinas fazem parte da grade curricular exigida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Sobre o golpe aplicado pelo vigilante, Marco Cesar explica que, nos Centros de Formação, o vigilante aprende que resguardar vidas é algo primordial na profissão e que, na disciplina de Defesa Pessoal, existe, entre as técnicas, a de imobilização.O chamado "mata-leão" é uma técnica de imobilização, mas que se deve ser usada com muito cuidado e da forma correta. Ele vê que houve uso excessivo da força por parte do vigilante na aplicação do golpe sobre a vítima e que isso vai totalmente contra o que é ensinado nessa disciplina.

"Faz parte do treinamento em defesa pessoal você imobilizar o outro. O "mata-leão" é um golpe de imobilização. O vigilante não é orientado para dar esse golpe, mas, se for realizado,você não pode prolongar muito. No caso do segurança do Hipermercado Extra, o que houve ali foi um excesso. Ele, inclusive,não tinha porque manter o golpe, já que estava acompanhado dos demais membros da equipe. Não dá para dimensionar o estado emocional do vigilante naquele momento", disse Marco Cesar, psicólogo do Centro de Formação Fortress.

O Portal Eu, Rio conversou por telefone com Humberto Rocha, um dos diretores do Sindicato dos Vigilantes do Munícipio do Rio de Janeiro (SINDVIGRIO). Segundo Humberto, os vigilantes são preparados para lidar com os sinistros que ocorrem em bancos, condomínios e no transporte de valores. Ele relata que, com a situação difícil na segurança pública do Rio de Janeiro, o vigilante se encontra muito "estressado" com seu trabalho, além de problemas com algumas empresas que não seguem o plano de segurança estipulado para o local.

Nas redes sociais do Sindicato, observamos várias reclamações dos vigilantes como falta de emprego, atraso nos salários e até relatos de fechamento de empresas de segurança privada. Com a crise financeira do estado, muitas empresas de segurança privada, que prestam serviço de vigilância para repartições públicas do Rio de Janeiro, ficaram sem receber. Com isso, vários trabalhadores da categoria tiveram atraso nos salários ou foram despedidos pela falência de algumas empresas.

Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Segurança Privada (Contrasp), o ano passado bateu o recorde de número de assaltos a carros-fortes no país. Em 2018, foram ao todo 116 ocorrências, totalizando 70 mortes em confrontos, ou seja, o dobro de 2017, que foi apenas de 30 mortes. A cada três dias, ocorria um assalto realizado por quadrilhas especializadas.

Após a repercussão da morte de Pedro Henrique Gonzaga, de 25 anos, por estrangulamento com um golpe de "mata-leão", pelo segurança Davi Ricardo Ribeiro, uma manifestação foi marcada para esse domingo (17/02), às 13h, na porta do Hipermercado Extra, na Barra.

O Deputado Federal Marcelo Freixo (PSOL/RJ) declarou nas redes sociais que:

"É inaceitável o que aconteceu no Supermercado Extra. A morte do Pedro Henrique não foi "imprudência". Foi "crime", disse o deputado na rede social.

O Sindicato dos Vigilantes do Munícipio do Rio de Janeiro (SINDVIG-RIO) divulgou a seguinte nota sobre o assunto:

"A Diretoria do Sindicato dos Vigilantes manifesta seu pesar pelo falecimento do jovem Pedro Gonzaga no episódio de ontem, dia 14 de fevereiro, pois independente do resultado da apuração criminal dos fatos, a categoria dos profissionais da segurança privada tem, na preservação da vida humana, o seu maior valor.

Vale lembrar que defender a vida e o patrimônio alheio, ainda que em prejuízo da sua própria vida, é a nossa maior missão.

No entanto, pedimos a todos que acompanham os fatos pela imprensa e redes sociais que NÃO JULGUEM E CONDENEM OS TRABALHADORES VIGILANTES ENVOLVIDOS antes mesmo da Justiça. Pedimos que respeitem o direito à defesa, que aguardem a apuração e investigação, e ainda o devido processo legal a que todos os cidadãos têm direito neste país.

Repetimos, sentimos muito pela morte do Pedro Gonzaga, mas antecipar conclusões não colaborará em nada para que a justiça prevaleça."

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