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Polícia soma 48% dos casos

'Futuro Exterminado' mapeia violência armada contra crianças e adolescentes no Grande Rio

Capital lidera, com 117 mortos e 153 feridos nos últimos sete anos, seguida de São Gonçalo e Niterói


Fogo Cruzado mapeou mortes e ferimentos de crianças e adolescentes desde julho de 2016, e confrontos com a polícia causaram metade dos casos. Foto: Agência Brasil

Nos últimos sete anos, 601 crianças e adolescentes foram baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro, revela levantamento inédito do Instituto Fogo Cruzado. Os dados foram registrados entre 5 de julho de 2016 e 8 de julho de 2023, quando 267 foram mortos e 334 ficaram feridos. Os adolescentes representam 78% das vítimas, sendo 231 mortos e 237 feridos. Entre as crianças, das 133 baleadas, 36 morreram e 97 ficaram feridas.



“A juventude é alvo no Rio de Janeiro e os dados do Fogo Cruzado mostram isso de maneira muito nítida. Uma em cada três crianças ou adolescentes foi vítima de bala perdida. 48% deles foi atingido durante uma ação policial. É inacreditável esses números existirem e não termos nenhuma política de segurança que funcione como resposta a eles. Parece que ninguém se importa. Quantas Ágathas e Joãos Pedro mais precisamos ter para se fazer algo?", avalia Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado.

Visando manter a sociedade informada sobre esses dados, o Fogo Cruzado lança hoje (11) a plataforma Futuro Exterminado. Nela será possível consultar as informações sobre cada criança e adolescente que foi vítima de violência armada no Grande Rio desde julho de 2016.

Operações policiais são o principal fator para mortes e ferimentos em crianças e adolescentes no Grande Rio

O mapa interativo lançado nesta quinta-feira (11/8) receberá atualizações periódicas, tanto dos dados gerais quanto das informações das vítimas. Para Cecília, este é um passo importante para o planejamento de políticas públicas e também um esforço de memória.

"A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças e adolescentes mortos e feridos. A gente sabe que não são casos isolados. Ágatha Félix, Maria Eduarda, João Pedro, Kauã, Alice, Emilly e Rebecca. Todo mundo lembra de um destes nomes. Então, temos os dados que precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública. Não podemos deixar essas histórias se perderem. Nosso esforço é também de memória, porque sem ela a sociedade não se mobiliza. Em nenhum lugar do mundo tantas crianças são baleadas sem que a sociedade se indigne. Aqui não pode ser diferente. As pessoas precisam se importar", afirma a diretora executiva do Fogo Cruzado.

AÇÕES POLICIAIS E BALAS PERDIDAS

As ações e operações policiais foram o principal motivo para vitimar crianças e adolescentes nos últimos sete anos. Entre as 601 vítimas, 286 foram atingidas nestas circunstâncias, resultando na morte de 112 mortas e deixando outras 174 feridas.

Cecília Olliveira ressalta que a morte de crianças e adolescentes motivaram ações por parte do Judiciário e do Legislativo nos últimos anos. "Quando a Ágatha foi assassinada durante uma ação policial no Complexo do Alemão em 2019, vimos uma comoção como poucas vezes houve nessa cidade. A morte dela foi investigada, mas isso é muito raro. É uma exceção à regra. Também vimos que a sociedade se mobilizou durante a pandemia, quando o João Pedro foi assassinado em meio a uma operação policial em São Gonçalo. Ou seja: é possível reagirmos a essa verdadeira barbárie. Já fizemos isso antes", destaca.

Ouça no podcast do Eu, Rio! o depoimento da diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel do Couto, sobre a evolução da violência armada contra crianças e adolescentes no Grande Rio.


No auge da pandemia, a morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, atingido por tiros durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, foi um dos pontos de partida para que a ADPF 635 entrasse em vigor. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) restringiu operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro apenas para casos excepcionais, durante a pandemia. João Pedro foi atingido nas costas no dia 18 de maio de 2020 e levado da casa em um helicóptero da polícia, mas não resistiu. Na casa onde ele morava, ficaram cerca de 70 marcas de tiros.

Já Ágatha Félix, 8 anos, foi baleada quando voltava para casa com a mãe no Complexo do Alemão, em 2019. O inquérito da Polícia Civil apontou que o tiro que acertou a menina partiu da arma do policial militar Rodrigo José Soares. Ele foi denunciado e aguarda para ir a julgamento em júri popular. Em 2021 foi sancionada uma lei no Rio Janeiro que estabeleceu que os crimes cometidos contra a vida de crianças e adolescentes terão garantia de prioridade nos trâmites de procedimentos investigatórios, observando as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ficou conhecida como Lei Ágatha.

Assim como Ághata, um terço das crianças e adolescentes vítimas da violência armada foi atingido por balas perdidas, o que representa 201 vítimas de balas perdidas nos últimos 7 anos (54 mortas e 147 feridas). Das 201 vítimas, 106 foram atingidas em ações e operações policiais (30 morreram e 76 ficaram feridas).

Nem mesmo dentro de casa estavam seguros. Ao menos 63 crianças e adolescentes foram baleados quando estavam dentro de casa. Entre as vítimas, 37 foram mortas e 26 ficaram feridas dentro de residências.

Em sete anos, 12 jovens foram baleados dentro de unidades de ensino, entre os atingidos um morreu e 11 ficaram feridos. Outras sete vítimas foram atingidas quando estavam indo ou voltando das unidades de ensino.

Distribuição da violência

Municípios

Entre os municípios que compõem a região metropolitana do Rio, os que mais acumularam crianças e adolescentes baleados foram:

Regiões


Fogo Cruzado

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