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#SomosTodosJohanna é o grito de indignação contra feminicídio em Barra do Piraí

Johanna Cerqueira foi encontrada morta na madrugada da última segunda, estrangulada por recusar namoro

Por Rafael Brito em 03/07/2018 às 23:21:12

#somostodosjohanna #feminicidio #johanna

Era para ser mais um final de semana de diversão e curtição, como todo jovem faz, o escape para encarar a rotina da segunda-feira em diante. Mas para Johanna Christina Cerqueira de Jesus, uma jovem universitária de 19 anos, a semana não "segundou", porque, na madrugada do último domingo (01), ela foi covardemente assassinada. O motivo? Na saída de uma festa, disse "não" às investidas sedutoras de Jhonatan Nunes Lima de Souza, 24 anos, conhecido como "Teteco". Não aceitando a recusa da moça, ele a perseguiu pelas ruas do Centro de Barra do Piraí (Sul Fluminense) e a matou. O corpo de Johanna foi encontrado com sinais de estrangulamento, na estação de trem da localidade, na madrugada de ontem, 02.

De acordo com a 88ª DP (Barra do Piraí), Teteco foi autuado em flagrante pelo crime de feminicídio, caracterizado pela morte da vítima pelo simples fato de ser mulher. Segundo amigas da jovem assassinada, o rapaz não era namorado de Johanna. Rafaela Inácio, 19, conta que eram apenas conhecidos e que ele, na última semana, vinha insistindo nas "investidas" na amiga que não tinha interesse em se relacionar com o jovem.

Rafaela diz que foram ao baile juntas e que saiu da festa antes de Johanna, por causa do filho que deixara em casa. "Ele (o Teteco) estava na festa mas minha amiga já tinha deixado claro que não o queria. Curtimos a festa numa boa e quando saí, estava tudo bem, ela tinha ficado lá se divertindo com outras amigas". Infelizmente não estava. Segundo testemunhas, a moça foi perseguida pelo assassino e, em algum momento do percurso, arrastada a força por ele para o local onde foi assassinada. Johanna Cerqueira foi enterrada na tarde desta terça-feira, 03. A Polícia Civil segue investigando o caso.

Somos todos Johanna - "Não" é não!

O que seria mais um caso local, restrito à dor de parentes e amigos próximos, repercutiu nesta terça-feira, 03, nas redes sociais. A hashtag #SomosTodosJohanna esteve durante toda a manhã entre os assuntos mais comentados do Twitter e expressa a indignação de quem, ao tomar ciência do caso, manifesta o desejo de justiça para que crimes como este não passem impune.

No que depender de Samantha Bellote, 20, não passará. Ela e outras amigas de Johanna resolveram se mobilizar pelas redes sociais para que o caso se torne símbolo de uma luta. "Não pode passar impune, chega de mulheres sendo desrespeitadas e vítimas, essa morte não será em vão e vamos lutar no nome da Johanna até o fim", conta a estudante de enfermagem que esteve pela última vez com a vítima na semana passada, quando assistiram juntas ao jogo de Brasil e Sérvia, pela Copa do Mundo.


Nas redes, foi possível ler manifestações como "precisamos reconhecer o nosso fracasso qual sociedade quando uma mulher não tem nem o direito de dizer 'não'" ou ""é tudo mimimi de feminista" "mulher quer é privilégios" - sim, claro, quem não quer o privilégio de não ser morta, desrespeitada, assediada ou estuprada né? agradeça VOCÊ, homem, por não precisar de um "feminismo" ou de leis que protejam a sua vida" e ainda a indignação da internauta "Cleroliveira" sobre a morte de Johanna: "morta por dizer não, morta por não ter seu direito respeitado, morta por uma sociedade que financia a ideia de que mulheres são obrigadas a cumprir todas as vontades dos homens."


Além de conseguirem emplacar a tag #SomosTodosJohanna nos Trending Topics do Twitter, a mobilização já reúne mais de 200 pessoas em um grupo de Whatsapp e organizam uma passeada com o mesmo nome da tag pela conscientização contra o feminicício. "Nosso ato será no sábado (07), 12h, com a concentração no Largo da Feira até à rua Engenheiro Francisco Freixinho, local onde o corpo da Johanna foi encontrado", explica Samantha se referindo a um trajeto de pouco mais de um quilômetro no Centro de Barra do Piraí. No Facebook, o evento já mobiliza mais de 500 pessoas, entre "interessados" e os que confirmaram comparecimento.

Brasil e o feminicídio

Em 2016, a ONU Mulheres, uma divisão da Organização das Nações Unidas que trata das questões sociais femininas, publicou um estudo que apontava a taxa de feminicídio no Brasil como a 5ª mais alta do mundo. O número de assassinatos chegava a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O mesmo mapa apontou que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por serem mulheres.

No ano passado houve o registro de 4.473 homicídios dolosos o que corresponde a um aumento de 6,5% em relação a 2016. Desse total, apenas 946 registrados como feminicídio. Esses números mostram que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. Se você acha esses números altos, saiba que eles podem nem expressar a realidade, tendo em vista que existe uma falta de padronização e de registros que atrapalham o monitoramento de feminicídios no país.

Graças a Lei 13.104/2015, o Código Penal Brasileiro foi alterado para que o feminicídio fosse previsto como circunstância qualificadora do crime de homicídio e incluído no rol de crimes hediondos (praticado com crueldade, inaceitável pela sociedade). De lá pra cá já se percebe evoluções nos registros: 2015 fechou com 492 casos, 2016 com 812 e, como já mencionado, 946 em 2017.

Feminicídio no Rio de Janeiro

O Dossiê Mulher do Instituto de Segurança Pública mostra que em 2017 quase 112 mil delitos foram registrados contra a mulher. São delitos diversos, como ameaça, lesão corporal, estupro e muitos outros. O estado registrou 68 feminicídios no ano passado. Neste ano, de janeiro até maio, o ISP já aponta 32 casos registrados e 109 tentativas de feminicídio.


É importante ressaltar que no Rio de Janeiro qualquer homicídio contra uma mulher já é registrado como feminicídio, por força da lei estadual 7.448 de 2016. A lei é de autoria da Deputada Estadual Martha Rocha (PDT), delegada e ex-Chefe da Polícia Civil, sendo a primeira mulher na história do Rio de Janeiro chegar ao posto. Agora em 2018 ela conseguiu a aprovação de mais uma lei em defesa da mulher e com punições ao feminicida. É a 7538/2018 que prevê que o agressor que cometer violência doméstica ou familiar contra mulher, além de ser preso e responder judicialmente pelo caso, deverá ressarcir o Estado pela utilização de serviços de emergência para atender a vítima (uso de ambulância, perícia, exame de corpo de delito, busca e salvamento, policiamento ostensivo ou serviço de polícia judiciária).

"O mesmo serviço que atende uma mulher vítima de agressão, poderia estar num mesmo momento direcionados à vários outros casos. A violência contra mulher movimenta toda uma estrutura pública que precisa ser ressarcida. Será possível investir esse dinheiro em Delegacias e Centros de Atendimento à Mulher e até mesmo criar novas políticas de combate à violência doméstica e familiar", explica a Deputada Martha Rocha.

 

Segundo o Observatório Judicial da Violência Contra Mulher, organizado pelo Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (PJERJ), dados extraídos entre janeiro de 2013 e junho de 2016, mostram que as mulheres são vítimas em 70% dos atendimentos notificados como agressões físicas nas redes de saúde do estado. Há cinco anos, os crimes de lesão corporal contra mulheres lideram os números de ações penais mais distribuídas no PJERJ.

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