Quando e onde vai ser a Copa do Mundo de Futebol Feminino no qual a Seleção Brasileira de Marta, Formiga e companhia vão participar? É a pergunta que Caroline Ferracini, gerente de projetos da ONU Mulheres, faz nos ambientes que reúnem diversas pessoas e entidades que trabalham em prol do empoderamento feminino. Mas diferente do que se espera, a resposta quase sempre é: "Não sei".
Se um mundial que vai receber aquela que foi eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo pela Fifa ainda não desperta o interesse do público feminino na mesma medida ou próximo a um mundial masculino, então a quantas anda a evolução da mulher na área esportiva? Essas e outras questões foram debatidas no auditório do Comitê Olímpico Brasileiro.
Com outras duas importantes presenças, de Fabi Alvim, bicampeã olímpica de vôlei e também de Aída dos Santos, única representante feminina na delegação brasileira dos Jogos Olímpicos de Tóquio 64, o debate proposto teve a mediação de Manoela Penna, diretora de Comunicação e Marketing do COB, e reuniu imprensa e formadores de opinião, tendo como tema "Mulheres no Esporte".
Aida dos Santos falou sobre preconceitos e superação
O encontro, que busca caminhos para o crescimento esportivo feminino como um todo, visando oportunidades, capacitação e crescimento, vislumbrou não só o futuro, projetando o que ainda está por vir em termo de conquistas, mas ainda as mudanças efetivas que revolucionam a vida das atletas e a inspiração de mulheres que no passado tiveram coragem de enfrentar obstáculos e preconceitos para exercer o direito ao esporte.
“Ser mulher no esporte era muito difícil. Ainda mais sendo negra e pobre. Meus pais não entendiam e não queriam que eu praticasse. Quando ganhei minha primeira medalha, meu pai jogou fora porque eu não trouxe dinheiro para casa. Foi duro, mas insisti”, recordou Aída dos Santos, que continua atleta. Atualmente, joga vôlei na seleção master do Brasil, modalidade que a filha Valeskinha conquistou a medalha de ouro olímpica em Pequim 2008.
Mesmo depois de 55 anos, as lembranças dos Jogos Olímpicos de Tóquio estão frescas na memória dela, que detalhou as dificuldades enfrentadas antes e durante a competição. Sentindo-se sozinha dentro da delegação nacional, sem técnico, equipamentos adequados para competir e com dificuldade de comunicação, engoliu o choro para alcançar 1,74m e terminar a competição na quarta colocação do salto em altura.
Nem mesmo uma torção no pé nas eliminatórias foi capaz de segurar a brasileira. O resultado de Aída dos Santos se perpetuou, por mais de 30 anos, até Pequim 2008, como o melhor desempenho individual de uma brasileira na história dos Jogos Olímpicos.
Ela criou quatro filhos praticando algum tipo de esporte. Como mãe, usava este caminho para cuidar da saúde das crianças e afastar os pequenos de qualquer tipo de vício. O que no começo eles viam como obrigação, depois virava paixão, como é até hoje na vida da ex-atleta.
Fabi, bicampeão olímpica, fala da evolução feminina
Mas, mesmo com tantos anos de luta, ainda existem diferenças e maiores desafios para as mulheres neste setor, principalmente quando elas resolvem abraçar como profissão. A audiência, os valores recebidos e até o reconhecimento, não estão equiparados ao mundo esportivo masculino.
“Escutar Aída dos Santos é um privilégio. Quem é apaixonado por esporte a tem como precursora e grande representante feminina nos Jogos Olímpicos. Hoje não tem nem como comparar, é um cenário completamente diferente. A busca por evoluir, por mais mulheres participando, é diária. Para entender de onde viemos e onde chegamos, devemos toda inspiração e reverência a atletas como ela”, exaltou Fabi, medalha de ouro em Pequim 2008, atuando ao lado de Waleskinha, e Londres 2012.
Rio 2016 chamou atenção para o futebol feminino
O evento, além de pensar como atingir níveis ainda não alcançados pelas mulheres no esporte, lembrou a evolução das mulheres em diversos segmentos esportivos. O COB, por exemplo, conta atualmente em sua estrutura com 128 mulheres e 108 homens. Nos cargos de liderança, 43,5% são ocupados por mulheres. Além disso, em parceria com a ONU Mulheres, a entidade elaborou uma Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Moral e Sexual no esporte.
Outro fato a ser celebrado foi a bem-sucedida missão 100% liderada por mulheres, que retornou dos Jogos Sul-americanos de Praia Rosário 2019 com 26 medalhas. E, como foi lembrado pelos participantes, foi na Rio 2016 que o futebol feminino deu um grande salto para alcançar a popularidade.
A coisa mudou de tal forma que pela primeira vez na história do país, a Copa do Mundo de Futebol Feminino será transmitida pela TV aberta e as meninas terão uniforme exclusivamente criado para elas disputarem o mundial, que será este ano, na França, de 7 de junho a 7 de julho. Tem inclusive empresas que irão liberar seus funcionários para assistirem às partidas, como é feito desde sempre com o futebol masculino.