O ex-governador Sérgio Cabral depôs, na tarde desta quinta (04), ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, sobre a operação Unfair play. No depoimento, Cabral confessou ter pago US$ 2 milhões para conseguir o voto de dirigentes para a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas 2016. Segundo Sérgio Cabral, o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o ex-diretor do comitê Rio 2016, Leonardo Gryner, intermediaram a negociação do pagamento da propina com o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, e seu filho Papa Diack.
"Olha governador, nós temos todas as chances de ganhar. Fizemos uma campanha bonita, os três níveis de governo envolvidos. O presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, se abre para vantagens indevidas. Fizemos contato com ele. E há uma garantia de cinco a seis votos. E eles querem US$ 1,5 milhão", disse Cabral no depoimento.
Carlos Nuzman e Leonardo Gryner, com medo de não conseguirem que o Rio de Janeiro passasse da 1ª rodada na escolha, teriam solicitado ao ex-governador mais US$ 500 mil para garantir mais nove votos dos jurados. Além do Rio de Janeiro, as cidades de Madri, de Tóquio e de Chicago também eram concorrentes, e a cidade menos votada seria eliminada. A cidade maravilhosa, na ocasião, obteve 26 votos contra 18 de Chicago, que foi eliminada.
Após a primeira votação, o Rio de Janeiro foi conseguindo apoio das cidades eliminadas, eliminando Madri por 66 votos contra 32.
Sérgio Cabral disse, no depoimento, ter conseguido o valor para compra dos votos com o empresário Arthur Soares, envolvido em denúncias de superfaturamento de contratos com o estado, investigado pela Lava Jato.
"Eu chamei o Arthur Soares e falei pra ele da necessidade de conseguir o dinheiro para os votos. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei. Eu dei o telefone do Léo, e eles acertaram com esse Papa Diack, filho de Lamine Diack", relatou o ex-governador.
Ex-governador diz que Eduardo Paes e Lula souberam da negociação, mas não participaram
O ex-governador Sérgio Cabral disse em depoimento que o ex-prefeito Eduardo Paes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só tomaram conhecimento da negociação após a cidade passar da primeira fase.
"Eu fiquei muito nervoso e ele não entendeu por que estava comemorando. Falei para ele: 'O meu medo era passar dessa fase. Nessa fase, tive um arranjo político assim, assim e assado'. Ele fez que não ouviu. Disse: 'Você está me contando algo que já passou...", disse Sérgio Cabral sobre a conversa com Lula.
Já o ex-prefeito Eduardo Paes só soube da negociação em uma conversa telefônica.
"Ele me disse por telefone que não iria a Berlim. Disse para ele que não poderíamos deixar de ir a Berlim. Falei: " rapaz, o Arthur vai dar um dinheiro, você tem que ir lá olhar na cara do presidente de Atletismo. Tem alguma coisa mais importante para você do que ganhar a Olimpíada no seu primeiro ano de mandato?", revelou Cabral.
O Portal Eu Rio procurou a assessoria do ex-prefeito Eduardo Paes e a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, até o fechamento dessa matéria, não emitiram nota sobre a declaração de Sérgio Cabral.