Há décadas, desde criança, acompanho propagandas, desde outdoors até as dos jornais e revistas, mas principalmente as dos comerciais de TV. Publicidades épicas, como a da Bala de Leite Kids (“a melhor bala que há” - 1978) ficaram no imaginário popular.
Antigamente, sem o advento dos computadores e da internet, era muito mais comum estar em casa e assistir à programação dos canais existentes à época no Rio de Janeiro: TV Educativa, depois TV Brasil (TVE- Canal 2); TV Globo (Canal 4); TV Tupi, depois TV Manchete (Canal 6); TV Bandeirantes (Canal 7); CNT, que teve outros nomes desde os anos 70 (Canal 9), TVS, depois SBT (Canal 11) e TV Record (Canal 13). Todas elas tinham os intervalos comerciais, os quais eu acompanhava com curiosidade, sem imaginar que – anos depois – viria a trabalhar com Comunicação Social. Inclusive ficaram famosas as chamadas de alguns apresentadores de TV, como Flávio Cavalcante, com dedo em riste para cima (“nossos comerciais, por favor”) e Faustão, dizendo que estava na hora dos “reclames do Plim-Plim”.
De alguns anos para cá ficaram populares as apostas esportivas via aplicativo, as chamadas BETs. Na realidade, virou uma febre nacional, tal qual a Mega da Virada. O brasileiro, entendedor nato de futebol, quer fazer sua fezinha e “ganhar algum”, já que o pagamento é imediato. A indústria das BETs tornou-se tão forte que jogadores de futebol se envolveram em escândalos ao fazer parte de um grupo criminoso de manipulação de resultados para angariar dinheiro para si mesmo ou para o próprio bando (vide a recente Operação Penalidade Máxima, via Ministério Público Federal). Alguns deles foram banidos do esporte bretão para sempre. Porém, este modus operandi não é de hoje. Nos anos 80, Paolo Rossi, jogador e ídolo da Juventus – o maior time italiano – também se envolveu num esquema de apostas esportivas (Totocalcio) manipuladas naquele país, sendo suspenso por dois anos e ficando fora dos campos por este período, o chamado Totonero. O atleta, para infelicidade dos brasileiros, voltou a jogar profissionalmente exatamente um pouco antes da Copa de 1982, para a qual foi convocado pelo técnico Enzo Bearzot. Naquele certame, ele foi simplesmente o artilheiro – com seis gols – e o craque da competição, eliminando a seleção brasileira com três tentos feitos na fatídica partida no Estádio Sarriá, na Espanha, disputa que fez o país chorar e ficou na memória de fãs do futebol até hoje como “A Tragédia do Sarriá”.
Mas porque cargas d´água estou falando sobre comerciais, futebol e apostas? Simples, caros leitores: algo tem me incomodado há algum tempo e quis passar para a posteridade como agem algumas (muitas!) pessoas. Antes, preciso falar de um ídolo nacional: Rivellino. Riva, o “Bigode”, um canhoto habilidoso, “o maior de todos”, segundo Maradona, foi um craque canarinho que jogou por Corinthians e Fluminense, entre outros times. Nestes dois foi “o cara”, tendo participado da “Máquina Tricolor” nos anos 70. Contemporâneo de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, de quem herdou a famosa camisa 10 do Rei do Futebol nas Copas de 1974 e 1978, ficou conhecido internacionalmente por duas jogadas geniais em campo: o “drible elástico”, no qual deixou Alcir, do Vasco da Gama, a ver navios e fez o gol da partida, no Maracanã, num jogo do Campeonato Carioca de 1975, pelo Flu; e o chute mortal – a “patada atômica” -, que ajudou o selecionado brasileiro a conquistar o tricampeonato da Copa do Mundo em 1970 no México. Aliás, Pelé, nome mais conhecido no mundo e que abriu as portas para brasileiros no globo terrestre, faleceu há pouco mais de um ano sendo lembrado pela geração atual, a da fofoca maldita, “caça likes”, como o “homem que não quis reconhecer a filha, que a maltratou”. As glórias e o que ele fez no passado para que o nome do país fosse reverenciado pela humanidade ficaram para trás... Afinal, parar uma guerra, marcar quase 1.300 gols e fazer com que os torcedores tirassem um juiz para que ele voltasse a campo após ser expulso não foi pouca coisa, não é mesmo? Mas isso é outra história, que deverá ser tema de texto em outra coluna.
Voltemos ao Rivellino, às apostas e aos comerciais. E aí chego ao ponto crucial que quero tocar nesta coluna: como os ídolos de outrora estão sendo (mal)tratados pela “geração internet” ou, na atualidade, pela “geração BET”. Na propaganda da Betano, aplicativo de apostas esportivas, um grupo de jovens está com o celular em mãos, fazendo suas fezinhas nas partidas, sentados num sofá, em frente a uma TV. Eis que uma dessas jovens é chamada a atenção para um senhor que também está apostando sentado numa poltrona. É neste ponto que reside meu incômodo: a jovenzinha, quando o vê, vira-se para “sua turma”, faz cara de poucos amigos e levanta as sobrancelhas, como a perguntar: “quem é esse cara??? O que ele faz aqui entre nós, na tenra idade??? O que ele entende de futebol para estar aqui???”. A cada dia que assisto a esta publicidade, meu mal-estar fica maior, pois, no final do “reclame”, aparece um sorridente Rivellino também fazendo sua fezinha, justamente o ídolo nacional que citei no parágrafo anterior. Ora, porque este país tem mania de colocar os que fizeram muito pelo Brasil no limbo? Confesso que não gostei. Ainda há de chegar o dia em que os brasileiros reconhecerão os seus como INTOCÁVEIS, com letras maiúsculas, aqueles que nada ficam a dever para astros internacionais. Já passou da hora de a “Síndrome de Vira-Latas”, do eterno dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, findar. E fim.
É Sobre Isso, Por Edison Corrêa, Jornalista Pós-Graduado (MBA) em Administração de Marketing e Comunicação Corporativa
É Sobre Isso, Por Edison Corrêa, Jornalista Pós-Graduado (MBA) em Administração de Marketing e Comunicação Corporativa