Esperei o hiato entre o Natal e a chegada de 2024 para escrever sobre o tão aguardado confronto entre Manchester City (ING) e Fluminense (BRA), na decisão do Mundial de Clubes de 2023. Duas escolas que contam com ensinamentos dos professores Josep Guardiola e Fernando Diniz, técnicos que surfam na crista da onda ao conquistar bons resultados com os respectivos times. Além disto, relembro aqui que, dos clubes brasileiros derrotados em finais para europeus na competição, que coloca frente a frente o campeão da Libertadores contra o vencedor da Champions League, o Vasco de Antônio Lopes é, segundo reportagem do GloboEsporte.com, quem mais esteve perto da vitória. O 2 a 1 para o temido Real Madrid (ESP), em 1998 - ano em que o Cruz-Maltino comemorou um século de existência - não refletiu o que se viu no National Stadium, em Tóquio, naquela manhã de 1° de dezembro.
Entretanto, desde a derrota por 4 a 0 para o Manchester City, na final do Mundial de Clubes realizada no dia 22 de dezembro, que torcedores do Fluminense - não todos, mas boa parte deles - dizem que houve equilíbrio nas ações do time comandado por Fernando Diniz.
Ora, o que se viu no gramado do Estádio King Abdullah Sports City, em Jidá, na Arábia Saudita, foi a equipe inglesa com 55% de bola nos pés, que chutou em oito oportunidades para gol (quatro vezes mais que as duas do ataque tricolor), trocou 530 passes contra 444 do campeão da Libertadores e cobrou quatro escanteios contra dois do Fluminense. Há outras comparações que poderia utilizar, mas as já apresentados aqui dão a nítida noção do que foi o jogo.
Acostumados com o tiki-taka (tic-tac aportuguesado), também conhecido como Dinizismo, o estilo do Fluminense passa a ter mais rotatividade entre os jogadores, constantes trocas de posições e passes em todas as zonas do campo (principalmente na defesa para surpreender o adversário), no qual até o goleiro passa a ter a função de jogar com os pés. E com qualidade, é bom que se diga.
Funcionou bem em algumas competições em que conquistou títulos - por exemplo, no banho de bola que deu no Flamengo no Carioca e na inédita Libertadores, ambas em 2023. Mas, na hora do "vamos ver", acabou sendo engolido pelos ingleses. Isso sem contar que Haaland e De Bruyne, protagonistas dos Azuis Celestes, não jogaram por estarem lesionados.
Guardiola pensa diferente. Para o fã da Seleção Brasileira de 82, o estilo de jogo é "inútil", "sem propósito" e "sem intenção clara". Basta ler a biografia The Inside Story of Pep Guardiola's First Season at Bayern Munich (Os bastidores da primeira temporada de Pep Guardiola no Bayern de Munique), escrita pelo jornalista espanhol esportivo Marti Perarnau.
No entanto, o tão aguardado embate Diniz versus Guardiola, acabou frustando os apaixonados pelas duas escolas de futebol. O City venceu sem esforço. O Tricolor errou o máximo em uma partida que deve-se errar o mínimo. Tornar-se presa fácil era questão de tempo, não de segundos, como foi o gol de peito de Julián Álvarez.
Porém, quem deu trabalho aos europeus em uma decisão de Mundial de Clubes que, a propósito, voltando ao motivo da produção do texto, foram dois grandes times cariocas que encantaram os torcedores nos séculos XX e XXl: o Vasco de 1998 e o Flamengo de 2019, já citados acima.
Comandados por Antônio Lopes e Jorge Jesus, Vasco e Flamengo conquistaram a Libertadores e chegaram com moral elevada à decisão do Mundial de Clubes contra espanhóis e ingleses.
O Vasco, que comemorava o centenário de existência, entrou às 9h (horário de Brasília) no National Stadium, em Tóquio, com Carlos Germano, Vágner, Odvan, Mauro Galvão e Felipe; Nasa, Luisinho, Juninho Pernambucano e Ramón; Donizete e Luizão. Do lado do time madrilenho, os brasileiros Roberto Carlos e Sávio, o argentino Redondo, o holandês Seedorf, o espanhol Raúl, além do montenegrino Mijatovic.
Mas foi o Real Madrid quem abriu o placar aos 25min do primeiro tempo, quando Roberto Carlos chutou com força de fora da área, a bola desviou na cabeça de Nasa e enganou Carlos Germano. No segundo tempo, Juninho Pernambucano, o Reizinho da Colina, aproveitou rebote do goleiro alemão Ilgner no chute de Luizão para finalizar no ângulo. Mas aos 38min, porém, veio o castigo. Raúl recebeu lançamento de Seedorf pelo lado esquerdo do ataque, deu dribles desconcertantes em Vitor e Odvan antes de tocar na saída do arqueiro vascaíno. Fim do sonho para uma equipe que mereceu sorte melhor durante os 90min.
O Flamengo, por sua vez, chegava à segunda decisão de Libertadores da história. Com um futebol que assombrou o país, Diego Alves, Rafinha, Pablo Marí, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro; Bruno Henrique e Gabigol, sob comando de Jorge Jesus, conquistaram a Taça Libertadores da América, o Campeonato Carioca, e, por fim, o Campeonato Brasileiro, em 2019.
A derrota por 1 a 0 para o Liverpool de Jurgen Klopp, no Estádio Khalifa International, em Doha (Catar), em um jogo disputado, pôs uma pá de cal e sepultou o sonho do bicampeonato Mundial para a Nação Rubro-Negra.
Tristezas à parte na vida dos vascaínos, rubro-negros e tricolores, derrota sempre machuca, fere o orgulho de todo e qualquer torcedor. Todavia, o mau resultado do Fluminense doeu mais do que os insucessos de Vasco e Flamengo. Ou alguém pensa diferente? Fica uma lição não apenas para o time das Laranjeiras, mas para os clubes do futebol brasileiro: é preciso rever conceitos de A a Z e em todo planejamento para voltar a competir de igual para igual em uma decisão de Mundial de Clubes.
Talvez esta (in)certeza soe - para quem é frio e não passional - como uma alerta de que jogar o Mundial de Clubes não é para fracos.