O tempo passa para todos. Ficam as lembranças dos momentos de alegria e tristeza também, de amores do passado, das nossas construções e dos que se foram. Nós seguimos equilibrando nossos sentimentos, muitas vezes sobrevivendo a saudades que nos sufocam, mas nada apaga o passado. A série DOC.Musical chancela com beleza e maestria as minhas palavras.
Três horas de espetáculo que passam sem percebermos. A direção desta obra acabou de apresentar o espetáculo "Elas Brilham" e, confesso, temi encontrar algo repetitivo. Mas não! Marcos Nauer, mais uma vez, não me decepcionou, pois a nova montagem, mais uma vez, me fascinou. Na verdade não só a mim, mas uma plateia inteira.
O espetáculo é dinâmico e pulsa não só dentro dos artistas, mas dentro de nós espectadores também!
Com um elenco de peso, eles fizeram outro trabalho INESQUECÍVEL!
Ao entrar no Teatro Claro NET, há uma cenografia que nos faz entrar num rádio mágico, um rádio do tempo, que faz o coração bater com mais força, e os sorrisos se manifestarem sem pedir licença.
Aliás, eu gostaria de saber por que essas obras nunca chegam às indicações de prêmios. Não sei se a produção prefere não fazer as inscrições ou se os jurados fizeram algum acordo entre eles de não dar mais visibilidade ao já consagrado Doc. Musical, ao menos pela crítica e público. Porque teatralidade tem de sobra!
Sandra Sá é a protagonista da festa. Ela continua potente!
A artista tem aparecido em diversos vídeos de divulgação. Ao assisti-los julguei que ela estava pegando pesado demais em afirmar que a obra estava linda, pura empolgação e tal…
Mas ao assistir à obra, percebi que Sandra está apaixonada, e muito certa dessa paixão! Ela tem razão em estar naquele palco, lembrando as canções que estiveram nas paradas de sucesso e na boca de milhões de brasileiros. Deve ser um presente para ela, ao menos seria para muitos outros artistas. E o espetáculo é SENSACIONAL!
Ela está solta, vibrante, forte, corajosa, rejuvenescida, um verdadeiro trator, nos atropelando com sua voz perfeita, que continua tinindo e também tangendo todos os espaços. Ela traz tanta vivacidade à obra que nos tornamos seus reféns.
Eu que pensei conhecer poucas músicas da artista, no entanto, me vi cantando todo seu repertório, que não é pequeno.
Quando Sandra aparece de Xuxa foi acolhida por nossas risadas. Ela é uma artista de tamanho não mensurável. Ficou divina a cena, consigo ver a rainha dos baixinhos aplaudindo Sandra de pé!
Ela se entregou a esse projeto e deu certo!
Quando ela conversa com a plateia sobre sua amizade com Cazuza, nos deixa boquiabertos, porque se conecta conosco belissimamente. Ao final da cena, a música By Bye Tristeza é cantada por nós, regidos por ela. É exatamente ali que ela se mostra para nós, parece que criamos um pacto com a artista. Penso que, para sempre, estará na minha memória esse momento!
À Sandra, os meus mais sinceros aplausos!
Marcos Nauer, em suas pesquisas não pecou ao levar para o palco os repertórios infantis. Caramba, o pesquisador é bem mais jovem que eu, mas pareceu ter feito parte da minha geração. Ele não economizou: Chaves, Bozo, Xuxa, Saltimbancos, Pirilimpipim, Ursinhos Carinhosos, foi uma sucessão de acertos que me fizeram viajar no tempo, no meu tempo! Sem nenhuma leviandade posso dizer: minha geração foi uma das melhores…
De quebra, Menudo, que marcou uma geração inteira, nos ensinando a não nos reprimirmos!
Quanto ao figurino, é preciso entender antes de escrever. Independente de onde venha a crítica, deve-se estudar, pesquisar para entender do que se vai falar.
Achei tudo muito brega, brega demais, e pergunto: existiu uma década tão brega quanto a de oitenta? Não! Porque como diz o nome do espetáculo, VALE TUDO!
A música Endless Love, do artista Leonel Ritchie, do filme “Amor Sem Fim” interpretado pela atriz lendária Brooke Shields, foi a trilha musical da cena do casamento da década. Lady Di se casou em 1981, com cerca de 750 milhões de pessoas assistindo ao primeiro casamento real. O mundo acompanhou a união do casal. Foi o casamento mais caro da história: cento e dez milhões de dólares.
Nesse momento, um altar aparece no palco, que mais parecia um bolo mal confeitado, fidedigno à época. Inclusive, esse casamento impulsionou muitos no Brasil, mas claro que catastroficamente, pois se tratava de copiar o vestido da eterna princesa de Gales. Momento difícil da nossa sociedade, e que copiosamente o espetáculo o trouxe com a mesma precisão de erros na tentativa da cópia. Adorei!
Vale lembrar, que durante 21 anos o país viveu um regime de governo militar. Foi na década de oitenta que começamos a contar outra história, com liberdade, voltando a democratizar. A arte seguiu seu caminho, fazendo mergulhos, experimentando as novas asas de criação antes podada por esse regime sangrento!
Então, o figurinista atendeu sem tosquenejar sua função!
Questionei o visagismo da estrela maior Madonna, fenômeno da década. Impossível não mencioná-la! Sabemos que Material Girl foi inspirado pela interpretação de Marilyn Monroe da canção "Diamonds Are a Girl's Best Friend", feita no filme Gentlemen Prefer Blondes. Senti falta da peruca loira do clipe, mas como manter o tom da peruca se estamos cá no Brasil? Ora, bolas, a maioria dos brasileiros hoje são negros, então miscigenar e nos identificar faz parte! Tchau, peruca loira!
Sem contar que o protagonismo pertence à Sandra Sá. Então, mais uma vez, ponto positivo, mesmo diante da minha referência estética ser a senhorita Monroe!
Ah! Marcos Nauer cativou meu coração, me fez delirar ao mencionar a estrela Cazuza, que, a meu ver, foi o maior artista brasileiro dos anos oitenta.
E como falar deste poeta, sem mencionar o HIV, a peste desta década?
E foi aí que Marquinhos se mostrou humano e, posso dizer ainda mais, com uma maturidade e contemporaneidade acima do esperado.
Se em 2023 estamos voltando ao teatro, mesmo que machucados por muitas perdas em nossas vidas por conta de uma pandemia, devemos ao SUS. E se os portadores do vírus HIV estão com suas imunidades mais elevadas, devemos também ao SUS.
E Marcos merece toda nossa reverência por nos lembrar a importância do Sistema Único de Saúde nesse país.
Ele levou ao palco as cores do SUS. A plateia ficou ensandecida, atropelando com os aplausos, antes mesmo do final da cena. Touchè!
Como canta Lulu: “E toda raça então experimentará, para todo mal, a cura…”
Ainda que eu tivesse assistido a um espetáculo morno, o que não é o caso, já me teria valido a pena ter assistido à obra por esse momento, que para mim diz absolutamente tudo. Se hoje escrevo esta crítica, após a Covid-19, isso quer dizer que sobrevivi, devido à vacina no braço, ao imunizante do nosso SUS! Bravo, MARCOS NAUER!
O Rock in Rio e o rock brasileiro foi orquestrado sem erros, excelente mergulho no tempo. A história do nosso rock se fez na década de oitenta. Rita Lee, RPM, Legião, Capital Inicial, Ira, Titãs, Paralamas, foi uma delícia!
Interessante foram os arranjos musicais vindo do artista Jules Vandystadt, que são muito bem elaborados.
O Teatro Net Rio, com seus movies, deu à plateia e ao palco uma iluminação incandescente, sem contar que, pela primeira vez, vi a iluminação pulsando no mesmo ritmo do meu coração. Belíssimo efeito!
Sem contar com o som do espetáculo, que certamente conta com cabos e microfones de primeira linha, pois o som implica em ser limpo, sem ruídos.
Gostaria de deixar registrada a minha admiração ao grupo de técnicos deste trabalho, que durante três horas e alguns minutos não pecam, estão alinhados e perfeitos em suas operações. Um verdadeiro show de profissionalismo quanto às entradas de luz e som!
Não se pode esquecer que a gestão do teatro tomou a decisão de dar acessibilidade a TODOS nos espetáculos que lá se apresentam, com audiodescrição e interpretação de libras. Bye Bye Tristeza, literalmente!
Vamos falar das constelações?
Manoel Victor, Felipe Miranda e Rafa Diverse são três artistas com vozes de ouro, um achado aos meus ouvidos e olhos, atuações perfeitas e hipnóticas. Não os conhecia e tive o imenso prazer de ver esses meninos. São uma espécie de artistas que não podem faltar nos palcos.
Luan Carvalho. Posso estar equivocada, mas esse artista nasceu para o estrelato. Seu corpo, sua voz e sua entrega funcionam. Há algo nesse jovem que nos faz suspirar e ficamos com a certeza que uma estrela está diante de nós. Os seus olhos e sua expressão facial legitimam sua alegria. Ele tem o pé na calçada da fama, exceto se ele não quiser. Me fez entender o trabalho minucioso feito nas audições, essas executadas pela direção do espetáculo. Luan foi a escolha certa, posso dizer muito mais que certa!
Leo Araújo e Jullie são artistas de musicais já com espaço reconhecidos, penso que ambos estão maduros. Há, em ambos, uma coerência na interpretação. Posso dizer também que os dois artistas carregam em suas vozes, drama. Atuam como pássaros, que por vezes choram e sorriem em seus cantos. Há nobreza em suas atuações, simpatia e elegância nesses corpos e nessas vozes. É sempre um prazer assistir esses artistas.
Aliás, fico a questionar como Leo Araújo ainda não protagonizou um espetáculo…
E se uns são carregados de dramas, Fabi Figueiredo atua com uma comicidade escandalosa, defendendo a época das ginásticas localizadas, com as polainas e maiôs muito bregas! Adorei! Flashdance, né, gente?
Elis Araújo me surpreendeu. Que voz tem a atriz! Ela mostra a nós, brasileiros, como somos potentes e temos artistas escondidos por aí. Gente ótima, a ser descoberta. Voilà!
São muitos nomes, impossível mencionar cada um deles. Mas TODOS dão conta do recado, sem mais nem menos!
Existe uma banda que acompanha os artistas ao vivo. Eles descem do palco e também cantam, como o baixista Fill Motta.
Falar desse projeto é sempre um prazer. Eles atravessam o tempo! Acredito que eles mesmos não tenham ideia disso. Assistir essa turma da pesada, hoje, é trazer, à minha memória, a minha mãe, pois “70 - Década do Divino Maravilhoso”, foi nossa última ida ao teatro juntas. Eles estão fazendo suas histórias junto às nossas!
Tenho a certeza, que o diretor Frederico Reder, Marcos Nauer, Jules Vandystadt e Victor Maia (coreógrafo) estarão marcados na memória de boa parte da sociedade carioca. Mais que isso, para muitos de nós, eles de alguma forma são icônicos, pois detalham nosso passado sem parcimônia, sem ao menos imaginarem que estão fazendo!
Um grande viva aos rapazes do DOC. MUSICAL!
E lógico, um grande viva às LEI DE INCENTIVO CULTURAL DO BRASIL, criada em 1991 no governo de Fernando Collor. Uma pena ele não ter se entendido um pouco mais com a arte!
SINOPSE
A Década do Vale Tudo” é um novo espetáculo da série DOC.MUSICAL, criado por Frederico Reder e Marcos Nauer. O gênero cênico utiliza ferramentas do documentário, teatro e música para contar a história dos grandes momentos da humanidade, com foco na música como grande protagonista.
FICHA TÉCNICA
EQUIPE CRIATIVA
DIRETOR: FREDERICO REDER
ROTEIRISTA: MARCOS NAUER
DIREÇÃO MUSICAL: JULES VANDYSTADT
COREÓGRAFO: VICTOR MAIA
O ELENCO:
SANDRA SÁ - Protagonista
BETO MACEDO, CHELLE, DAMIANA SADILI, ELIS ARAÚJO, FABI FIGUEIREDO, FELIPE MIRANDDA, FILL MOTTA, GABRIEL FABBRI, GIOVANA ZOTTI, GUTA MENEZES, IVANNA DOMENYCO, JULLIE, LEANDRO MASSAFERRI, LÉO ARAÚJO, LUAN CARVALHO, MADSON DE PAULA, MANOEL VICTOR, MARCELO BRUNO, PAULO VIEL, PEDRO NASSER, RAFA DIVERSE, RODRIGO SERPHAN, ROSANA CHAYIN, STACY LOCATELLI E VIC ARANTES.
SERVIÇO
SESSÕES
SEXTA-FEIRA - 20H30
SÁBADO - 17H00 E 21H00
DOMINGO - 16H00 E 20H00
SEGUNDA-FEIRA - 17H30
VALORES
PLATÉIA - R$ 250,00 ER$ 125,00
FRISAS E CAMAROTE - R$ 200,00 ER$ 100,00
BALCÃO I - R$ 140,00 ER$ 70,00
BALCÃO II - R$ 100,00 ER$ 50,00
RESERVAS PARA GRUPOS:
Marcelo Lopes
[email protected] / 11 94536-7083
Informações Importantes:
*O acesso aos setores balcão e frisa é feito somente por escadas, a acessibilidade é somente para os assentos da plateia.
*Não é permitida a entrada no teatro após o início do espetáculo. em caso de atraso, não haverá devolução do valor dos ingressos, nem a troca para outro dia ou sessão.
*Assento para obesos: informamos que este assento é duplo e se destina ao conforto do cliente obeso.
*Cadeiras extras: as cadeiras extras são dobráveis e não possuem apoio de braço.
Duração: 160 min
Classificação: 12 anos. Menores de 18 anos de idade devem ser acompanhados por seus pais ou representante legal.