Raul Seixas sempre foi um artista diferenciado. Considerado o pai do rock brasileiro, deixou um legado importante e muito bem-vindo para todas a gerações.
Impossível negar que o artista é um dos maiores representantes do rock brasileiro. Uns dizem que Roberto Carlos é o maior roqueiro do Brasil, mas, para mim, o cantor está distante do que entendemos do estilo musical.
As letras e a musicalidade do Raul parecem ser muito mais atraentes para aqueles que admiram o estilo, mas isso é a minha opinião.
Assisti ao espetáculo “Raul Seixas - O Musical” e posso dizer que valeu a pena!
Aprendi sobre o rock brasileiro quando comprei um livro sobre o estilo na década de oitenta,. Essa obra me trouxe muitas informações e conhecimento, de norte ao sul do país. Tivemos artistas que fizeram história, como Humberto Gessinger, Serguei, Paulo Ricardo e muitos outros. No mesmo livro, aprendi a importância de Ney Matogrosso para a história do rock brasileiro. O livro trazia praticamente um capítulo sobre Raul Seixas, foi uma leitura leve e bem proveitosa.
Faz uns anos que assisti um musical que apresentava Merlin, o Rei Artur e Raul Seixas. Mas posso dizer que o espetáculo que está no EcoVilla Ri Happy, na Zona Sul do Rio, é mais atraente, pois traz somente Raul e suas esquisitices.
Como que pelo buraco de uma fechadura, a peça leva o público à intimidade do processo criativo do cantor durante uma noite de insônia em que ele compõe e reflete sobre a sua música e seu país.
O mergulho/pesquisa sobre o artista foi muito bem feito. A montagem é bem executada e tem mais do Raul que eu esperava.
Um cenário que, de longe, parece ser minimalista, mas não é, pois traz inúmeros detalhes, minuciosamente estudados para sua composição. Tudo muito com a cara do roqueiro.
Os figurinos também transcenderam, brilhosos, tecidos com caimento e que dão liberdade para o artista que está em movimento o tempo inteiro. Todos muito lindos. Ao se juntarem aos objetos de cena, desaguam em Raul, nos levam ao artista.
Mas vou evidenciar a iluminação: PERFEITA. Saímos do espetáculo impactados com o trabalho do profissional. Existem duas cenas que ficarão marcadas em minha memória toda vez que me lembrar dessa obra, através desse trabalho executado: lasers são levados em direção da plateia e refletores bem posicionados que fazem a sombra do artista no palco.
A escolha do repertório não poderia ser melhor, uma viagem muito bem feita. Quando saímos de casa com a intenção de assistirmos tudo de Raul Seixas, esperamos exatamente ouvir o que diretor leva ao palco. Muitas vezes tive vontade de ficar em pé e gritar: tente outra vez! A banda está impecável, sem falhas, uma delícia de se ouvir.
Vamos falar do artista Bruce Gomlevsky.
Todos que frequentam o teatro conhecem Bruce. Não falamos de um artista iniciante, mas de alguém que carrega na alma o teatro. Tudo que ele faz é de ótimo gosto, tanto na direção quanto no palco, Bruce é irressistivelmente atraente, gostoso de se ver. Ele não erra, é cuidadoso. Uma vez, no Centro Cultural do Banco do Brasil, ao terminar um espetáculo, que o artista dirigia, ele levantou-se e foi cobrir uma tira branca do palco, quase imperceptível.
As observações dele são de grande valia, pois fazem com que tenhamos cuidado na hora de escrever sobre suas obras.
O artista se entregou ao papel, foi indiscutivelmente RAUL SEIXAS. Ele sai de um baú e nos apresenta o "Maluco Beleza" sem titubear, do místico ao louco, de tudo um pouco. Entre versos e músicas escritas por ele, não devaneia ao ponto de não se fazer entender, mas nos apresenta um artista muito querido pelo Brasil. No carnaval, por exemplo, o bloco Toca Raul lota, nos faz entender a importância do artista para todos nós.
O sotaque é muito bem empregado. Afinal, falamos de um baiano. Bruce soube trazer essa característica do artista polidamente, sem exageros. O corpo do artista no palco também atua com majestade.
Interessante como a música “Carimbador Maluco” foi apresentada. Confesso que eu esperava que ela fosse chegar com mais agitação, mas não, veio com o auxílio da iluminação e um capacete vermelho, com delicadeza e MUITA beleza. Além de diferente, ficou assertivo, pois se trata de um teatro adulto. Adorei!
A música “Gita” me emocionou demais. Com uma capa, sentado, Bruce interpretou lindamente. Nos faz refletir, porque somos um pouco de tudo aquilo que ele cantou.
Lindo!
A obra conta, em parte, as histórias das letras compostas, como “Cowboy Fora da Lei”. Fatos que eu não sabia. Isso, para mim, já seria suficiente para dizer que valeu a pena ter assistido.
Amei quando vi a bandeira do meu país naquele palco, com a palavra AMOR, que justifica o motivo da arte existir na vida dos artistas brasileiros, tão mal remunerados e pouco valorizados por aqui.
Bruce está indicado ao Prêmio Shell de Teatro, o que achei muito bom. Mas, independente desse resultado, afirmo que este artista é mais que um prêmio: é um fazedor de teatro do mais alto nível. Sempre estarei como espectadora em sua plateia, porque ele é como Raul: não fica parado e sabe executar!
Aproveitem para ver a obra! É uma delícia reviver Raul no corpo de um artista tão desbravador como Bruce e os demais profissionais que o cercam nessa montagem.
Parabéns a todos!
Ficha Técnica
Interpretação: Bruce Gomlevsky
Direção e Dramaturgia: Leonardo da Selva
Direção Musical: Gabriel Gabriel
Músicos:
Cantora: Sadili
Guitarra: Ziel de Castro
Baixo: Maninho Bass
Teclados: Junior Monteiro
Bateria: Carlos Oliveira
Cenário: Nello Marrese
Figurino: Maria Callou
Iluminação: Gabriel Prieto
Colaboração na Dramaturgia: Bruce Gomlevsky
Colaboração na Primeira Versão da Dramaturgia: Guilherme Bazana
Assistência de Direção: Tássia Leite
Preparação vocal: Deco Fiori
Direção de Movimento: Marina Salomon
Desenho de som: João Paulo Pereira
Camareira: Flávia Cotta
Contra Regragem: Taú
Direção de Produção: Gabriel Garcia
Produtores associados: Bruce Gomlevsky & Leonardo da selva
Realização: N.A.V.E & BG Art Entretenimento Ltda.
Serviço
ONDE: Teatro EcoVilla Ri Happy
Rua Jardim Botânico, 1008 – Jardim Botânico / RJ – Tel: (21) 3553-2616
TEMPORADA: Até 28 de abril
HORÁRIOS: sexta e sábado às 20h; domingo às 19h
INGRESSOS: R$ 100 e R$ 50 (meia)
BILHETERIA: sexta, das 13h às 22h; sab e dom, das 10h às 22h
CAPACIDADE: 350 espectadores
DURAÇÃO: 1h40
GÊNERO: Musical
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 anos