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"Era uma Vez um Tirano": memórias tristes da Ditadura Militar

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 10/01/2023 às 08:25:14

Enquanto eu estava dentro do Teatro do Centro Cultural da Justiça Federal, o Brasil sofria atos contra a democracia. Exatamente por isso esse espetáculo é de grande importância para nossas crianças, público para qual essa obra foi criada.

A obra apresenta o primeiro texto da Ana Maria Machado (sexta ocupante da cadeira 1 da Academia Brasileira de Letras), de 1981, quando as proibições do tirano estavam na memória recente de todos, segundo a autora, pois a ditadura militar se estendeu até 1985.

A adaptação do texto é assinada por Vinícius Baião. "Eu estava na quinta série e lembro de, na época, ter lido e relido várias vezes, tamanho o impacto", diz Vinícius. Ele trouxe do passado aquilo que estava em sua memória, ainda criança, e deu certo. É perceptível como a história faz efeito no público-alvo. A obra apresenta uma junção de domínios da ficha técnica, criatividade e graça.

Expressões corporais muito bem executadas e divertidas, principalmente do Tirano, ator com pernas longas, que se encaixaram super bem na personagem.

Dani Fontam está no elenco. A atriz mais uma vez leva encanto à sua personagem. Ela é rainha no palco, assume seus papéis sempre com maestria, independente ou não de ser a protagonista.

Higor Nery assume o antagonista com devoção, se entrega totalmente. Engraçado muitas vezes, no entanto, cruel. Cheio de caras e bocas. O Tirano proíbe músicas, cor, teatro, amizade, sonhos e tudo mais.

Ele vem trajado com uma indumentária e adereços divertidos e muito criativos, desenhados por ele mesmo e Leandro Fazolla. Ambos simplesmente deram um show quando criaram duas estéticas: uma antes do tal Tirano e outra depois. O espetáculo começa com um colorido estonteante, tanto no cenário quanto no figurino, muito brilho e cores radiantes. Depois do Tirano, tudo cinza, sem graça, aos olhos principalmente das crianças.

Aliás, Fazolla é doutorando em artes cênicas. Ele não é somente um ator, muito pelo contrário. É um artista que mergulha profundamente em seus trabalhos. Assina figurino e cenário também, mostrando-se um multiartista com opiniões que, muitas vezes, não agradam a todos. Mas há nele uma força incessante para defender os artistas da Baixada Fluminense.

A peruca do Tirano foi inspirada nas perucas das cortes antigas, e trouxeram nelas rolos de papel higiênico, onde eram escritas as novas leis. As crianças adoram quando o Tirano puxa um pedaço de papel da cabeça para escrever suas más intenções.

O vendedor de bolinhos de chuva, sol e sonhos também vem com bastante cores, mas que também são proibidos pelo Tirano, um carrasco.

O ator Cesario Candhi faz um X9 do ditador, mas ao ver uma flor se deixa levar pelo colorido, que foi proibido. É uma das cenas mais graciosas da peça, ele mais parece um colibri, encantador.

As crianças, ao perceberem sobre o que está acontecendo, gritam pedindo um trabalho de equipe dos moradores da cidade.

Quando outro decreto é trazido, as crianças gritam: de novo?!

Quanto à Cia Cerne, é preciso falar sobre. Fundada em 2013 na cidade de São João de Meriti, Baixada Fluminense (RJ), ela se consolida como uma das principais companhias da região, tendo circulado por nove estados do Brasil e participado de importantes festivais. Já recebeu mais de 50 prêmios, incluindo 13 de melhor espetáculo, 9 de melhor direção e 14 de atuação. Fez temporadas em importantes em espaços como Teatro Dulcina, Teatro Glauce Rocha, Theatro Municipal de Niterói, Teatro João Caetano e SESC Belenzinho (SP), entre outros. Já foi contemplada por editais da Funarte e do Governo do Estado do Rio de Janeiro, além dos editais Rumos Itaú Cultural e SESI Novos Talentos e SESC Pulsar RJ. Integra a FETAERJ; a Rede Baixada em Cena, vencedora do Prêmio Shell 2017 na categoria Inovação; e a Rede Frente Teatro RJ, indicada em 2019 ao mesmo prêmio na mesma categoria.

Atualmente, a companhia está indicada a três categorias do prêmio CBTIJ de Teatro para crianças pelo infanto-juvenil "Uma História de Rabos Presos", espetáculo também com tema político. Para quem conhece o teatro e acompanha tudo que acontece há a clara percepção de como eles estão sendo reconhecidos nesses últimos tempos, dentro e fora do estado do Rio de Janeiro.

A obra "Era uma Vez Um Tirano" passou pelo SESC Belenzinho, em São Paulo, no início de 2019 e circulou por várias unidades entre 2018 e 2019. Diante desta curadoria, quem sou eu para dizer que a obra não tem valor? O Sesc é a instituição que respeito, por entender a sua importância para a sociedade brasileira.

A obra é leve, e clara, bem objetiva, nada de mensagens implícitas. O que acho de bom tom, já que o tema é de muita importância para os pequenos, multiplicadores de ideias.

Por qual motivo, portanto, os pais deveriam levar seus filhos a assistirem ao espetáculo? Porque eles vão gostar, vão aprender o que é uma democracia, a importância da liberdade, em militar sem destruir, em defender suas ideias de maneira inteligente, NUNCA destruindo patrimônios públicos. Porque estarão numa sala de teatro, de onde nunca deveriam sair!

Enquanto eu via cores e sonhos, do lado de fora vi meu Brasil enfrentando um dos piores atos contra a democracia, essa que nos chegou através das mortes de muitos jovens, muitos cidadãos que lutaram e deram suas vidas por nossa liberdade de expressão. Destruíram de maneira bronca nossas artes, peças de valores imensuráveis, como o quadro do Modernista carioca Di Cavalcanti. Que os tutores levem seus pequenos a entenderem que a luta é necessária, mas nunca da maneira que fizeram!

SINOPSE

O espetáculo narra a história de um lugar feliz e colorido, cujo povo perde sua liberdade a partir do momento em que um tirano toma o poder. Após um longo tempo, caracterizado por mandos e desmandos do Tirano, três crianças se conhecem e resolvem contagiar a população na tentativa de pôr fim àqueles tempos cinzentos. (Sinopse)

FICHA TÉCNICA

Texto original: Ana Maria Machado

Adaptação e Direção: Vinicius Baião

Supervisão: Marco dos Anjos

Elenco: Cesário Candhí, Dani Fontan, Gabriela Estolano, Graciana Valladares, Higor Nery

e Leandro Fazolla.

Cenografia: Leandro Fazolla

Figurino: Higor Nery e Leandro Fazolla

Maquiagem: Higor Nery

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Preparação Corporal: Marcio Paulo Vasconcellos

Direção Musical e Trilha Sonora: Beto Gaspari

Preparação Vocal (voz cantada): Beto Gaspari

Preparação Vocal (voz falada): Felipe Valle

Coreografias: Marcio Paulo Vasconcellos

Produção Executiva e Fotografias: Stephany Lopez

Produção: Cia Cerne

SERVIÇO

ERA UMA VEZ UM TIRANO

10, 11, 17 e 18 de dezembro; 7, 8, 14 e 15 de janeiro

Sábados e domingos às 16h (No dia 17 de dezembro às 17h)

Centro Cultural Justiça Federal

Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro – RJ

Ingressos: Inteira: R$40,00 / Meia entrada: R$20,00

Classificação indicativa: Livre

Duração: 60 minutos

Informações: [email protected]


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