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Especial

Técnicos consagrados perdem mercado no futebol brasileiro

Treinadores da base e ex-auxiliares são efetivados nos clubes


René Simões treinando o Botafogo (Vitor Silva / SS Press)

A derrota da seleção brasileira para Alemanha, em 2014, parece que gerou consequências intermináveis. Um dos desdobramentos do vexatório 7 x 1 tem sido a falta de credibilidade dos treinadores de futebol brasileiros no mercado internacional. E a situação só piora, quando técnicos consagrados também estão perdendo espaço no cenário nacional em virtude do surgimento de novos treinadores de expressão. Alguns oriundos das categorias de base dos clubes, outros promovidos dos cargos de auxiliares e efetivados no comando do time principal.

Nomes como de Vanderlei Luxemburgo, Cuca, Oswaldo de Oliveira, Joel Santana, Luiz Felipe Scollari, Dorival Júnior, Emerson Leão, Cristóvão Borges, Paulo Cesar Capegiani, Celso Roth, Adilson Batista, Valdir Espinosa, Jayme de Almeida e Paulo Cesar Falcão, estão desempregados. São treinadores que até pouco tempo eram muito disputados e hoje não são mais. "Alguns treinadores pela ambição de trabalharem a qualquer preço se desvalorizam, aceitam qualquer proposta. Às vezes passam a desempenhar funções diferentes, como gerente de futebol, e de uma hora para outra, voltam a treinar", analisa Fernando Pires, diretor da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol - ABTF.

Técnicos experientes viram comentaristas esportivos

Existe inclusive uma nova tendência que é migrar para as mídias esportivas. Inclusive durante a Copa da Rússia, muitos deles participaram como comentaristas em emissoras de televisão. Alguns contratados, outros apenas como convidados. René Simões, que atuou pela Fox Sports e declarou que não é mais treinador, tem a seguinte opinião quanto à renovação no comando técnico dos clubes: "Se pegarmos os profissionais de imprensa, verificaremos o mesmo cenário. Os mais antigos saem por causa de salários. Coloca-se o mais novo interino, se der certo, efetiva. O salário é infinitamente inferior", sentencia o atual coach de Fábio Carille e José Ricardo, entre outros profissionais do ramo.

Fernando Pires, diretor da ABTF. (Arquivo pessoal)


Novos profissionais nas grandes equipes do futebol brasileiro

Em maio de 2016, a diretoria do Flamengo surpreendeu anunciando o técnico do time sub-20 no comando da equipe principal. Era o novato Zé Ricardo, substituindo o consagrado Muricy Ramalho. Tempos depois o Botafogo também promoveu o auxiliar técnico Jair Ventura como novo treinador. Uma pratica que vem se tornando cada vez mais frequente nos clubes brasileiros de futebol. E que somente este ano, no campeonato brasileiro, já tem um número significativo de representantes. Thiago Larghi (Atlético-MG), Maurício Barbieri (Flamengo), Osmar Loss (Corinthians), Odair Hellmann (Internacional) e Tiago Nunes (Atlético-PR).

"São profissionais que estão aproveitando bem as oportunidades. Hoje um iniciante tem uma gama de informações e acesso aos mais diversos tipos de trabalhos. O que juntamente com a formação acadêmica ajuda no crescimento profissional. Além disso, acho que os clubes estão descobrindo que a continuidade de um trabalho é o melhor caminho para obter sucesso. Além do baixo custo contratual", opina Alfredo Sampaio, que além de treinador é presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro - SAFERJ e membro da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol - FBTF.

Alfredo Sampaio em treino do Bangu. (João Carlos Gomes / Bangu)


Atualmente, antiguidade não é posto no Brasil e futebol é de resultados. Jovens ou velhos, os treinadores não resistem a muitos jogos sem vencer. A pressão pelos resultados e o imediatismo, muitas vezes não permitem o amadurecimento que, a longo prazo, poderia ser promissor. E embora demissões por derrotas ou eliminações tenham sido sempre frequentes na rotina dos campeonatos nacionais, técnicos com bagagem não tinham tanto problema antes. Eles rapidamente conseguiam recolocação no mercado. E rodavam por todos os clubes até deixarem de ser solução. E o aproveitamento temporário dos auxiliares ou treinadores da base, passou a ser efetivo e bem-sucedido. As portas estão abertas para novas apostas e casa vez mais se fechando para os mais experientes.

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