Estamos no período eleitoral e, a julgar pelas manifestações de opinião no universo das mídias sociais, o brasileiro anda bem seguro de suas convicções quando o assunto é defender seu posicionamento político. As principais discussões no ambiente virtual se polarizam em torno de esquerda e direita. Mas será que as ideologias políticas se resumem a "mortadelas" versus "coxinha" e às trocas de ofensas que estes trocam na rede?
Sabendo da complexidade do tema e percebendo a grande desinformação da maioria que arrisca a opinar, principalmente no democrático ambiente virtual, o professor de geografia Nelson Eduardo Chagas, desde 2013 vem enriquecendo o currículo de seus alunos do Programa de Ensinos de Jovens e Adultos (PEJA) da rede pública municipal de ensino no Rio de Janeiro. A faixa etária deles varia de entre 20 e mais de 50 anos.
Numa aula específica para discutir sobre a estrutura política do Brasil, o quadro é preenchido e vira uma grande tabela na qual se elenca detalhadamente as cinco linhas ideológicas (esquerda conservadora, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita conservadora), a quem alinha cada uma, as principais proposta e os partidos ligados a elas.
Antes de saber a linhas ideológicas, os alunos são instigados a elaborarem propostas e pautas eleitorais e, após, com a exposição no quadro das ideologias, são convidados a compararem onde cada proposta se encaixa. "Surpreendentemente muitos se veem à esquerda", conta Nelson Eduardo. Ao portal Eu, Rio! o professor disponibilizou o mesmo quadro que seus alunos têm acesso, para que nosso leitor entenda com a mesma didática e analise criticamente onde se encaixa suas ideologias. Confira:
Rompendo com o tradicional e formando cidadãos críticos
Nelson explica que tudo começou quando ele resolveu incrementar as aulas com noções de direito administrativo e constitucional. O objetivo era esclarecer sobre o que é o Estado Brasileiro, sua formação política, da estrutura histórica de poder e o que são as instituições.
O professor analisa que a população em geral só enxergar - de forma distorcida ou míope - os agentes políticos do poder Executivo (presidente, governador e prefeito), enquanto que os demais poderes (Legislativo e Judiciário) são imaginados como peças decorativas de instrumentalização do Poder. "Temos a ideia persistente do governante tal qual o monarca", afirma.
Dessa forma, segundo ele, o povo não tem a real percepção do poder e das instituições, e, desde a Colônia, o sistema se mantém sem rompimento com o passado:
"Da Colônia para o Império, a Independência foi, institucionalmente, a transmissão de poder para o herdeiro da Coroa Portuguesa que se alia a herdeiros das Capitanias Hereditárias e, portanto, elite detentora real do poder. Do Império para a República o presidente Marechal Deodoro da Fonseca é visto tal como o novo "monarca", apenas com novo nome e sem a vitaliciedade de cargo. Se pensarmos com certa profundidade, veremos novamente o rompimento das elites com a situação e a introdução do "novo", visando a manutenção de seu poder, influência e interesses, enquanto o povo não tem a percepção da nova ordem, ficando assim, em sua totalidade, alienado do protagonismo político", argumenta o geógrafo.
"Meu trabalho tem sido a desconstrução da História que a escola ensina, que reforça um modelo de construção do imaginário coletivo, de dominação e de submissão, e construir no aluno um pensamento crítico de sociedade. É mostrar sem cores a realidade em que vivem e qual o seu papel dentro dessa sociedade e desse sistema", conclui o professor.