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Fala, presidente

Abad: "A gente tem que aprender com os erros para não cometer outros"

Presidente do Fluminense abre o jogo e fala de gestão, ameaças e perspectivas


Pedro Abad falou com exclusividade ao portal Eu, Rio! (Foto: FFC)
"Meu interesse é unicamente o Fluminense, o engrandecimento dele. Tenho um objetivo muito claro e quero cumprir. Se o conselho deliberativo, se os sócios entenderem diferente, faz parte do jogo", declara o mandatário que na semana passada apresentou defesa escrita a um pedido de impeachment.   

Abad falou com exclusividade ao Portal Eu, Rio! sobre diversos assuntos envolvendo o Fluminense. Entre eles, a negociação envolvendo o atacante Pedro; a dependência total do trabalho feito no Centro de Treinamento da base em Xerém; a negociação difícil e cara com o Maracanã em prol da torcida; as estratégias adotadas para manter o time na primeira divisão e o projeto em andamento para tirar o clube da delicada situação financeira em que se encontra. 

A conversa com o Portal foi tão franca que em determinado momento, Pedro Abad se emocionou. Foi perceptível, ao revelar o motivo pelo qual quis ser presidente do Fluminense, as difíceis decisões administrativas, a certeza de que pode reverter o quadro atual, o isolamento e apoio político e a cobrança da torcida. 

Abad fala também de outros esportes, da revitalização na sede e no estádio das Laranjeiras e conclui a entrevista com uma mensagem, direta ao torcedor: "Gostaria de pedir ao nosso torcedor que viesse para o estádio, independente de qualquer coisa, da opinião que tem sobre a gestão. O clube fica para sempre, o presidente muda. Peço que venham ao estádio apoiar e ajudar". 

Veja a entrevista na íntegra:

EU, RIO: Quando resolveu se candidatar à presidência do Fluminense e quais eram as expectativas?

ABAD: Pensei em me candidatar em abril de 2016. A sucessão natural do Peter (Siemsen) era o Pedro Antônio, mas ele tinha restrições na condição social dele junto ao clube, não podia concorrer e a gente tinha que ter alguém para concorrer e continuar um trabalho diferente, ou o que a gente achava que era, e o nome que apareceu foi o meu. Pessoas me pedindo para tentar mais essa colaboração e tentei viabilizar junto ao meu trabalho, foi possível e a gente entrou nessa aí. 

O senhor veio como candidato da situação, apoiado pelo ex-presidente Peter Siemsen. Como é a relação de vocês agora?

A gente não se fala muito. O Peter está cuidando do trabalho dele, hoje não tem atuado no clube. A gente se fala muito eventualmente, de futebol, de campo, dificilmente sobre alguma coisa de gestão. Ele está cuidando da vida dele mesmo. 

Perto da zona de rebaixamento, o time corre risco de ir para série B em 2019 e ter a verba da TV diminuída drasticamente. O que pode ser feito para que isso não aconteça?

Acho que a gente não está tão perto assim de estar lutando lá embaixo. E a questão da verba da televisão, afeta todos os clubes, não é só o Fluminense. A gente tem duas armas poderosas para enfrentar o Campeonato Brasileiro: primeiro é Xerém como fornecedora de jogadores, depois nosso corpo técnico, nossos funcionários e colaboradores do departamento de futebol, que sabem montar elenco, ainda que com dificuldades orçamentárias. A gente tem feito um trabalho bom. Não é exatamente o que a torcida do Fluminense quer, mas num momento de transição, de reestruturação, acho que os resultados não estão ruins. Não vejo nenhum desafio que seja do Fluminense que não seja próprio de outros clubes também para o ano que vem. 

Foi assinado um contrato de parceria com o ICT que visa a reforma do estádio das Laranjeiras e melhorias na sede do clube. Como se dará essas ações?

Na verdade o ICT é um instituto que foi criado por alguns Tricolores para angariar fundos para arcar com o ônus financeiro do projeto do novo estádio das Laranjeiras. Existe um grupo de conselheiros e sócios que dão andamento aos projetos, a obtenção de licenças, tudo aquilo que é necessário para as reformas e o clube dá todo apoio institucional a eles. Sempre se fazendo presente junto aos órgãos públicos, dispondo de espaço, de funcionários para exercer as tarefas que são necessárias dentro do projeto. A gente espera que pelo menos ano que vem consiga começar a obra. Tem uma fase importante que é a capitação de recursos. Não vai ser só um lugar para jogar futebol, mas também de eventos culturais, então a gente espera também obter recursos com organizadores de shows, de eventos, para viabilizar a construção.

Como está a sede atualmente, antes da revitalização? 

Acho que a revitalização pode gerar um ganho na ocupação do clube, mas o Fluminense hoje tem um parque aquático, tem outras áreas sociais onde a gente pode desenvolver, embora essa falta de recursos financeiros para investimento atrapalhe um pouco. Mas o clube tem atrativos para as pessoas poderem frequentar e a revitalização é mais um incentivo. 

Quais são os motivos que levaram o clube a difícil situação financeira atual?

São vários fatores, não é propriamente concentrado em um ano. O futebol mudou muito rápido e era necessário entender que o futebol virou um negócio e não existe mais a permissividade que existia antes dos órgãos reguladores, do próprio poder público, como a receita federal, procuradoria da fazenda, da justiça trabalhista. Enfim, os clubes que não se adaptaram, acabaram tendo dificuldades que agora aparecem de forma mais forte. Acho que o Fluminense passou por esse processo. Nós tivemos um ano de 2016 muito complicado em termos de colocação de recurso, isso acabou impactando no ano passado e impacta nesse ano também. 

O Fluminense vai ou não negociar o Pedro? Qual o valor mínimo estipulado pelo clube para uma negociação envolvendo o atleta? 

Não existe valor mínimo. A janela está encerrada. O Pedro é jogador do Fluminense. Aparecendo algum clube oferecendo um valor justo, a gente pode pensar, se for algo que seja do interesse do atleta também. Enfim, tem que ser algo que seja do interesse de todo mundo. Não existe valor mínimo, pelo contrário, o jogador é um atacante de Seleção Brasileira, não está jogando por uma contusão e isso aí tem um valor. A gente tem que respeitar o valor que o atleta tem. Fluminense precisa, caso aconteça, ser recompensado de uma maneira justa. 

Uma negociação envolvendo o Pedro pode sanear boa parte das dívidas do clube? 

Qualquer venda de atleta sempre ajuda. Se fosse o caso do Pedro, certamente seria um valor mais relevante que ajudaria bastante. Mas de qualquer maneira não é a venda de um atleta que resolve uma situação que já vem perdurando a muito tempo, que teve um capítulo complicado em 2016 e 2015 também. Enfim, é um processo que tem que ser continuado, ele não se resolve em um ano. Se tivesse uma venda realmente gigantesca, algo muito, muito grande, talvez com um ou dois anos a gente resolvesse. Mas a gente hoje não tem nenhuma venda para atleta nenhum do Fluminense e tem que trabalhar com aquilo que pode fazer. 

Qual seria a solução e saberia dizer também a estimativa de tempo?

A gente tem um projeto de reestruturação financeira que acaba com um grande problema hoje que são as penhoras. Temos diversos credores, todos eles tentando receber seus valores e diversas ações judiciais que vão penhorando recursos do clube e isso dificulta muito o dia a dia. Então nossa ideia é fazer um projeto onde vamos ter um fundo só credor. Vamos substituir toda dívida do Fluminense com um único credor, com um fluxo planejado, levando em conta a venda de atletas, para que não tenhamos mais as penhoras que atrapalham tanto. É um projeto que está em andamento, já bem estruturado e em breve vamos apresentar ao mercado para ver quem deseja investir. Esperamos conseguir fazer isso rápido para ter uma vida financeira mais tranquila. 

Se sente isolado politicamente? Em que isso aumenta as dificuldades atuais?

Não me sinto isolado politicamente. Existem muitos políticos que estão apoiando, inclusive ajudando dentro da gestão. O que realmente atrapalha são os movimentos políticos desconexos que tentam levar o Fluminense a caminhos que a gente já trilhou e foram desastrosos. Tivemos duas renúncias de presidentes em épocas que na sequência nos levaram a série B e C. Então, muito mais do que dificuldade financeira, o que decreta realmente um desastre é uma instabilidade, uma falta de noção de que há comando dentro do clube. Quando a gente vê movimentos, ainda que legítimos dentro de um processo democrático, e entende que não é efetivamente de gestão de clube e sim de gerar instabilidade na gestão, a gente fica realmente triste e o prejudicado é o clube, não a pessoa. Isso realmente atrapalha, mas é só mais um obstáculo que a gente vai passar. 

Como está o caso Scarpa? A atitude que o atleta teve em relação ao Fluminense foi surpresa para a direção do clube?

Esse caso está entregue ao nosso jurídico. Qualquer coisa que a gente fale pode ser mal interpretado e gera animosidade. Cada pessoa tem suas atitudes e pronto. Acho que a gente não tem que ficar alimentando nada. Vamos deixar as coisas se resolverem primeiro e aí cada um faz a sua análise.

O Sr. acaba de apresentar sua defesa para um pedido de impeachment e tem uma forte oposição. O que o leva a querer continuar? 

Na verdade, quando decidi aceitar ser presidente do clube, eu tinha um objetivo muito claro na minha cabeça. Quando entrei vi que as coisas não eram como eu achava que era. Tive que mudar muita coisa do que eu pensava. Eu tinha uma ideia muito clara de crescimento do clube, de refazer futebol. Pensar muito mais em futebol do que realmente desafios financeiros e no caminho isso mudou. Entendo que esse trabalho é extremamente importante. Os desafios de gestão dos clubes de futebol estão crescendo de tamanho e é importante deixar o clube apontado para cima. Quando vejo o clima criado, muitas vezes artificialmente, entendo que minha contribuição é efetivamente entregar um clube melhor. O futebol não pode funcionar a base de pressões políticas. Tenho muitas conversas com os outros presidentes e a realidade é a mesma para todos. Sempre existe uma tentativa de criar instabilidade, porque existe um interresse muito grande no poder. Futebol envolve cifras relevantes, envolve visibilidade, envolve uma série de fatores que são atraentes as pessoas e muitas vezes não estão ligadas aos interesses do clube. Meu interesse é unicamente o Fluminense, o engrandecimento dele e tenho um objetivo muito claro e quero cumprir meu objetivo. Se o conselho deliberativo, se os sócios entenderem diferente, faz parte do jogo. Não vejo motivo nenhum para este pedido (do impeachment), foi muito vazia, a minha defesa foi muito clara nesse sentido, em expor isso. E a gente vai continuar trabalhando. Não tenho dúvida nenhuma. 

A torcida também vem demonstrando rejeição ao seu mandato, com palavras e até atitudes agressivas. O Sr. já recebeu ameaças? 

Acho que quem resolve assumir um clube como o Fluminense não pode ter nenhum tipo de medo ou de receio de pressão. Se tiver medo de pressão, vai trabalhar em clube pequeno. Clube grande a chapa é quente 24 horas por sete dias. Não tem jeito. Já recebi ameaças, minha família também já recebeu. Enfim, é um processo duro, mas alguém tem que fazer. É passar por cima e mostrar resultado que a maré vira. Não tenho dúvida nenhuma. 

O Sr. tem algum tipo de arrependimento, como por exemplo não ter fechado o patrocínio com a Caixa Econômica Federal?

Não. É muito fácil falar de arrependimento depois que a gente toma a decisão. Decisão no mundo do futebol é muito complexo, as coisas mudam o tempo todo. Eu tinha convicção de que na época não era para fazer Caixa Econômica, como até hoje tenho que na época a gente tomou a decisão correta. E em breve a gente vai ter uma condição diferente para buscar patrocinador, até mesmo a própria Caixa Econômica, se for o caso. Mas a gente erra e acerta. Não adianta só se arrepender. A gente tem que aprender com os erros para não cometer outros. Arrependimento é uma face de uma moeda em que você é obrigado a tomar decisão e nem sempre vai ser a certa.

Como estão os outros esportes, além do futebol?

A gente conseguiu agora aprovar nosso projeto do ICMS relativo ao vôlei, que teve o orçamento dele aumentado. É um esporte que o torcedor gostou de ver o Fluminense disputar, o vôlei feminino. Polo aquático muito bem, natação evoluindo. Fluminense tem vida além do futebol, evoluindo, vida com história. Sempre na medida daquilo que a gente possa investir, vai fazendo uma evolução. Se não na velocidade que a gente quer,  na velocidade que pode. 

Pode falar um pouco da importância das categorias de base em Xerém? 

Xerém hoje, eu diria que é o que garante ao Fluminense sua continuidade como clube vencedor. A nossa base tem os expoentes da Seleção Brasileira, são jogadores nossos. Hoje inclusive (jogo com o Vitória) a gente está levando para o jogo um jogador que nunca pisou no profissional, o Gabriel. Fez três treinos e o Marcelo Oliveira falou que quer ele no banco. Então, Xerém é o que existe pra gente. Xerém é tão estrategicamente importante quanto o futebol profissional. Futebol profissional é o fim, mas Xerém é um meio, sem o qual a gente não vai conseguir sobreviver. 

Como está a relação com o Maracanã, após a notificação ao clube feita pela concessionária por atrasos no pagamento?

A relação com o Maracanã está e sempre foi tranquila. Não é desconhecido das pessoas que jogar no estádio não é barato, é caro. A gente faz esse esforço pelo torcedor, quer que tenha o melhor possível e até por isso pede para ajudar a equilibrar essa balança, que é pesada. Mas a relação com o estádio vai sendo levada. Não existe Maracanã sem o Fluminense. Vasco e Botafogo têm seus estádios e Flamengo e Fluminense jogam aqui. Por mais que existam problemas a serem resolvidos e equacionados, a relação segue. Fluminense segue jogando no Maracanã normalmente. 

Gostaria de deixar um recado para a torcida Tricolor?

A situação não é fácil, é difícil. Vamos passar por momentos complicados ainda. Isso é um processo, não é pontual. A gente não chega, toma uma atitude e acabou o problema. Não é assim. Minha mensagem é também um pedido, para que o torcedor esteja junto com o clube. Fluminense precisa do torcedor dentro do estádio. Seja para ajudar a gente a manter uma equação melhor com o Maracanã, seja para apoiar o clube em busca de resultado esportivo. Sem o torcedor as coisas realmente ficam mais difíceis. A gente vê alguns clubes com a média de público grande e fica imaginando como seria se o torcedor tricolor realmente resolvesse abraçar o time? Se viesse para dentro do estádio? Independente de gostar ou não do presidente. Isso não pode influenciar na torcida pelo time. Gostaria de pedir ao nosso torcedor que viesse para o estádio, independente de qualquer coisa, da opinião que tem sobre a gestão. O clube fica para sempre, o presidente muda. Peço que venham ao estádio apoiar e ajudar. 

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