O consumidor brasileiro se espanta cada vez que precisa ir às compras. O cenário nos supermercados e postos de combustíveis é desafiador e faz aumentar as rugas de preocupação em todos, principalmente nos mais pobres. A alta nos preços de alimentos como, por exemplo, carne, leite, trigo, vegetais seguem em ritmo frenético e a perspectiva não é das melhores, porque os indicadores mostram que a disparada vai rolar até o final de 2022.
As famílias menos privilegiadas financeiramente, infelizmente, são as mais prejudicadas. Afinal, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. O professor de economia Lauro Barillari destaca que essa parcela da população brasileira não tem como fazer estoques, que é uma forma de se proteger desses aumentos. "Os pobres não possuem renda para estocar em função da baixa disponibilidade financeira. Eles consomem aliando as necessidades às suas disponibilidades de caixa, de dinheiro, que entram de forma irregular e ocasional em função da precariedade do trabalho", frisa.
Lauro Barillari aponta outro fator: "Em termos percentuais, o impacto de um aumento sobre a renda dos mais pobres é bem maior do que os ricos, fazendo com que essas pessoas deixem de consumir determinados produtos essenciais, e, com isso, tendem a ficar em condições de vida desfavoráveis. Na economia, chamamos esse fenômeno de perda de bem-estar social", ensina.
Segundo Barillari, a dinâmica de aumento de juros no Brasil, decidida pelo COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central), de 9,25 para 11,75 (+27%) desde dezembro/2021 até hoje e a retomada de alguns setores da economia, em 2021, ainda não serão suficientes para conter os efeitos da escalada dos preços, iniciada a partir da falta de diversos produtos e serviços no mercado, efeito da pandemia.
"Além disso, este ano, estamos vivenciando alguns eventos atípicos e combinados: o estresse da guerra com a Ucrânia e a Rússia, países que concentram parte relevante da produção de Petróleo, grãos e cereais no mundo, a crise de oferta de alimentos, no campo brasileiro, pelas condições climáticas desfavoráveis, a valorização da moeda americana, pressionando os preços dos insumos importados e utilizados na indústria nacional; e, ainda, as expectativas das eleições presidenciais no Brasil, que podem elevar a cotação do dólar com a possível saída de investidores do país, de acordo com os diversos cenários das pesquisas. O aumento do dólar encarece ainda mais os insumos no país, pressionando assim a alta dos preços ao consumidor", explica o professor Barillari.
A luz no fim do túnel na economia para os brasileiros pobres só deve acender no próximo ano, em 2023. Isso porque, a estimativa do Boletim Focus, que reúne cerca de 100 instituições de mercado, é que a inflação caia 43%, ou seja, para o nível de 3,75. "Entretanto, a projeção para o PIB brasileiro é de crescimento próximo a zero, fato que poderá ameaçar a capacidade da indústria de absorver um possível aumento na demanda interna de bens e serviços, em função da retomada de investimentos públicos, pós-eleição, do emprego e da estabilização do cenário econômico internacional. Esta última refere-se aos preços do petróleo e commodities, que refletirão na mesa do consumidor", projeta Barillari.