O ataque a uma escola em Cambé, no Paraná, esta semana, que deixou dois estudantes mortos, reacendeu o debate sobre a violência no ambiente escolar e tornou ainda mais urgente a necessidade de se criar estratégias eficazes para combatê-la. Para ajudar gestores e professores, o Laboratório Inteligência de Vida (LIV), programa de educação socioemocional presente em mais de 600 escolas do Brasil, acaba de lançar um e-book gratuito sobre prevenção da violência, com dicas variadas, que vão desde a identificação de possíveis agressores até a melhor forma de acolher emocionalmente estudantes após um ataque. O material também aposta na criação de ambientes saudáveis, livres de bullying e racismo, por exemplo, como forma de evitar novas agressões.
Segundo Renata Ishida, psicóloga e gerente pedagógica do LIV, o e-book nasceu depois de uma sequência de episódios de violência e ameaças às escolas no Brasil.
“Naquele momento, havia uma cobrança muito grande, como se as unidades escolares, fossem responsáveis pelo problema, que é, na verdade, da sociedade. As escolas precisavam ter conduta e orientação e, por isso, resolvemos fazer o e-book para ajudar em um direcionamento mais geral” explica a profissional.
O material gratuito, que traz dicas práticas, está disponível em https://materiais.inteligenciadevida.com.br/kit-liv-s-o-s-escolas-ferramentas-para-o-combate-a-violencia-page e destaca que professores e familiares, por estarem mais tempo com os jovens, precisam estar atentos ao comportamento das crianças e adolescentes. Um alerta importante é prestar atenção naqueles que demonstram fascínio inapropriado por ataques ou que idolatram agressores, que armazenam canivetes, que falam sobre intenções de matar ou fazem discursos de ódio. Mudanças de comportamento repentinas, como afastamento de amigos e das atividades corriqueiras, também devem ser observadas.
Recomendações do e-book
O e-book do LIV lista uma série de recomendações para que as escolas combatam o bullying e construam um ambiente mais inclusivo. A educação socioemocional, que foca em habilidades como empatia e colaboração, é uma aliada, mas outras estratégicas também podem ser postas em prática.
A construção no cotidiano escolar de um espaço de acolhimento e escuta empática dos conflitos vividos pelos estudantes é importante. Deste modo, eles são ouvidos e contemplados em seus desafios, angústias e enfrentamentos. Situações omitidas ou mal resolvidas no cotidiano podem gerar desdobramentos futuros.
O livro virtual sugere a adoção de uma educação antirracista e a inclusão, em sala de aula, de discussões sobre extremismos, direitos humanos e convivência entre as pessoas. “Além de trabalhar esses temas, as escolas precisam ser menos competitivas. Promover atividades mais colaborativas entre os alunos, trabalhar as habilidades socioemocionais, ter uma escuta ativa. Tudo isso é um conjunto que ajuda a minorar os problemas”, ressalta.
Um dos alertas que o material faz é sobre a forma de acolhimento nos casos de violência. Há diferentes maneiras, dependendo da idade dos alunos.
“Quando acontece alguma violência em escola com crianças menores devemos, tanto escola como família, entender como ela foi afetada. Não é preciso adiantar o assunto, mas entender como ela soube, quais são os seus sentimentos. É necessário também fortalecer o vínculo da criança com a escola, incluindo o discurso de que todos estão preocupados com a sua segurança, que foi um episódio isolado, que não acontece todos os dias. Já com os adolescentes é ampliar um pouco mais essa conversa e a escuta. Trabalhar outras questões e fazer com que esse aluno seja um agente transformador”, reforça Renata.
Mais um ponto abordado é a necessidade de investimento na educação digital, orientando uma reflexão dos alunos sobre os riscos de determinados espaços virtuais. Professores precisam falar sobre a importância de alunos não “fazerem ameaças de brincadeira”.
Outro alerta do e-book é checar a veracidade das notícias, fontes, eventuais boatos e denunciá-los. O canal Escola Segura, do Ministério da Justiça (https://www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura), recebe denúncias anônimas e conta com instrumentos sofisticados para descobrir as fontes dessas mensagens.