Literatura também rende samba na avenida. No Carnaval Carioca de 2024, mais uma vez, diversos enredos foram construídos a partir de livros, que retratam diferentes aspectos da diversidade brasileira, como as questões racial e indígena.
A Portela virá trazendo para a Sapucaí uma adaptação de 'Um defeito de cor', da autora Ana Maria Gonçalves. A obra conta a história de Kehinde, uma mulher africana escravizada, que consegue se alforriar e voltar à África, mas no fim da vida, decide retornar ao Brasil em busca do filho perdido há décadas. A personagem criada por Ana Maria é inspirada em Luisa Mahin, líder da revolta dos malês e mãe do poeta João Gama, que também se afastou dele ainda menino.
Para Ana Maria, essa é uma ótima forma de popularizar a literatura e seus temas.
“Eu acho que talvez uma das coisas mais importantes para a literatura é a gente furar realmente essa bolha de, que realmente, da literatura né. Eu acredito que vai popularizar uma série de pautas que a gente vem tratando em outros meios né, como a literatura, no caso Um Defeito de Cor, e eu acredito que pode chamar a atenção também de outros carnavalescos que se interessem por contar essas histórias que a gente vem contando durante muito tempo, de uma forma mais popular”.
Outra obra que inspirou um enredo de Carnaval é “Nosso destino é ser onça”, do escritor Alberto Mussa, que embala a Grande Rio.
O livro reconstitui a narrativa Tupinambá da criação do mundo, com a onça enquanto animal, ser e espírito, pela visão da devoração e da admiração, até chegar aos dias atuais, em que a figura da onça é símbolo de luta.
Mussa explica que foi com grande satisfação que recebeu a notícia da adaptação de sua obra.
“Foi uma alegria enorme né, porque eu sempre tive uma relação muito forte com o Carnaval. A minha relação inclusive né, até familiar, porque o meu tio foi compositor muito importante da União da Ilha, no Salgueiro né, com grandes sambas que ele ganhou. Então desde pequeno eu acompanho desfiles de escolas de samba”.
Ele acrescenta que a expectativa é grande em torno de vitória da escola.
“A escola, você sente, que ela abraçou o enredo, abraçou o samba, estão com uma vibração assim muito bacana, dá pra sentir isso. Ninguém está prevendo nada porque é impossível. Mas assim, existe uma sensação de que é possível ser campeã de novo com esse enredo”.
Outras escolas com enredos baseados em livros são Salgueiro, que homenageia o povo Yanomani e tem na lista de referências a obra “A Queda do céu” de Davi Kopenawa e Bruce Albert; Porto da Pedra, com o Lunário Perpétuo, escrito pelo espanhol Jerónimo Cortés, no século XVI; e Imperatriz Leopoldinense, atual campeã do Carnaval, com O Testamento da Cigana Esmeralda, um cordel escrito por Leandro de Barros há mais de cem anos.
Ouça no podcast do Eu, Rio! a reportagem de Carolina Pessoa, da Rádio Nacional, sobre os enredos que levam a literatura para o Sambódromo.
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