Afirma a a denúncia que o grupo, conhecido pela extrema violência de seus atos e constituído sob a forma do que popularmente se chama “milícia”, emprega diversos tipos de armas de fogo em sua atuação, bem como conta com a colaboração de funcionários públicos, mais especificamente policiais e bombeiros militares da ativa, que se aproveitam desta condição para práticas criminosas.
A ação desta sexta-feira é referente a dois inquéritos, sendo que um deles teve origem nas investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O nome de Orlando Curicica, na época um dos suspeitos, foi apontado como responsável por vários crimes praticados por milicianos na Zona Oeste.
Entre os alvos da operação, há quatro policiais militares e um bombeiro. Um dos acusados é o PM Rodrigo Jorge Ferreira, testemunha do caso Marielle e Anderson. Serão também cumpridos mandados de busca e apreensão em batalhões da PM e dos Bombeiros e em celas de presídios onde alguns dos acusados já encontram-se detidos.
Vale destacar que a liderança máxima do referido grupo era Orlando Oliveira de Araújo (vulgo ‘Orlando de Curicica’), seguido de William da Silva Sant’anna (‘William Negão’), Guilherme Anderson Oliveira Christensen, e Renato Nascimento dos Santos (‘Renatinho Problema’), todos já denunciados por integrarem a mesma organização criminosa, nos autos do processo n° 0514732-96.2015.8.19.0001, em curso na 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital/RJ. Dentro dessa hierarquia destaca-se ainda a atuação de Leandro Marques da Silva (‘Mingau’), policial militar alvo da presente denúncia, e homem que gozava de grande confiança do chefe Orlando de Curicica, chegando a ser apontado como o ‘02’ na estrutura criminosa.
Segundo o MPRJ, de 2015 até o final de 2017, na área de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, os denunciados constituíram organização para a prática de crimes como extorsão a moradores, comerciantes e prestadores de serviços, em troca da oferta de segurança, invasões de imóveis para futuras revendas, grilagem de terras, falsidade documental, comercialização de sinais clandestinos de internet, televisão a cabo e do comércio de gás e água, somando-se a isso a venda de munições e armas de fogo, cigarros falsificados, contrabando, clonagem e receptação de veículos, além de corrupção. Há também suspeita de homicídios, ameaças, torturas, roubos, estelionato, contrabando e descaminho. Os membros dessa quadrilha fazem imperar a “lei do silêncio” entre os moradores da localidade em que exercem o controle criminoso.
A organização é caracterizada por clara estruturação e divisão de tarefas, nos quais havia os membros incumbidos da gestão do esquema criminoso; os seguranças designados para a proteção pessoal dos chefes do bando; os responsáveis pelas áreas dominadas; os soldados; os cobradores ou recolhedores; os vendedores de armas de fogos e cigarros; os olheiros; e os incumbidos da clonagem e receptação dos veículos usados por seus integrantes. O grupo espalhou sua atuação pela imposição do medo e subjugando moradores e comerciantes nos bairros citados, em especial nas regiões de Curicica, Colônia, Terreirão, Camorim, Parque Carioca/Jambalaya, Merck, Boiuna, Santa Maria, Mapuá, Lote 1000, Pau da Fome, Tancredo, Jordão e Teixeiras, todas na Zona Oeste da capital fluminense.