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"Segredos de um Escândalo": novo filme de Todd Haynes chama a atenção pelas grandes atuações

Cinestesia, Por Gabi Fischer, Cineasta e Produtora

Em 18/01/2024 às 18:22:49

Um melodrama que vai causar uma mistura de sentimentos: do incômodo a manipulação, do escândalo a sedução, do crime à paixão. Tudo isso com um fio emocional bem sustentado que deixa nas mãos do espectador pensar o que está assistindo. O roteiro de “Segredos de um Escândalo” chegou para Natalie Portman, que se tornou a produtora executiva e o levou para o diretor Todd Haynes. O melodrama é uma marca de sua filmografia, com grandes títulos de referência como “Longe do Paraíso” e “Carol” (só para constar que eu amo “O Preço da Verdade” e “Não Estou Lá”, também dele). Haynes sabe trabalhar muito bem suas personagens femininas, em especial por construí-las na frente da câmera emocionalmente de forma gradativa. Nesse mistério feminino, o novo filme usa perfeitamente de duas personagens para falar de abuso, silenciamento e vulnerabilidade.

Sinopse: Vinte anos após seu romance midiático virar assunto da nação, um casal é colocado sob pressão quando uma atriz viaja até seu lar para se preparar para um filme sobre o passado deles.

É sim um filme sobre um crime, já que a relação do casal acontece quando Joe (Charles Melton) tem 13 anos e Gracie (Julianne Moore) já tem 36. Mesmo que essa informação possa chocar, um caso semelhante realmente aconteceu, de Mary Kay Letourneau e Vili Fualaau, em 1997. O longa não vai discutir sobre a diferença de idade, mas sim suas consequências. Concordo com o diretor quando comenta que o “filme te coloca em lugar de incerteza, reflexão e incômodo”. Assim, a grande experiência aqui está na sábia escolha de colocar o espectador como grande observador dessa narrativa, já que é impossível não ficar refletindo sobre o que está na nossa cara.

Quem nos guia é a personagem Elizabeth (Natalie Portman), que é a atriz que interpretará Gracie no filme que está sendo produzido e vai de encontro ao casal para um estudo de laboratório. Prepare-se porque é um privilégio ver o trabalho de Portman, como sua personagem tem o perfeccionismo de estudar cada traço de Gracie e vai se tornando ela bem na nossa frente, através do jeito de falar, o cabelo e as roupas. O que também faz de Moore a perfeita coadjuvante por ajudar Portman nesse caminho brilhante. O diretor também nos provoca a esta observação, já que explora bem os espelhos em cena, duplicando-as, colocando-as lado a lado e, claro, serve para se enxergarem. Fica bem claro a inspiração de Haynes em “Persona”, de Bergman, que funciona muito bem.

Além disso, o roteiro não é esmiuçado, ou seja, diversas informações não são exatamente explicadas. Só que isto não quer dizer que não sejam possíveis de entender ou prestar atenção nos detalhes. Um exemplo é o trabalho da arte ao colocar nas manchetes e páginas da revista o escândalo de vinte anos atrás. As entrelinhas de muitos assuntos mal resolvidos são trazidos à tona graças às provocações e perguntas de Elizabeth. Sua presença é um incômodo que, inclusive, faz com que Joe olhe para si e enxergue tudo que perdeu e, claro, perceba o abuso que sofreu.

Melton não fica atrás no trabalho de atuação, já que sustenta muito bem seu personagem. Vê-lo "desmontar" em cena é sensacional, pois assistimos a um homem de 40 anos na história, mas que ainda é um garoto por dentro e precisa ouvir da esposa sobre sua tamanha recusa de enxergar a realidade e também falar que ela não fez nada de errado, pois foi ele quem a seduziu. Fica claro entender que seu cuidado e interesse em borboletas é o paralelo perfeito, já que Joe observa os animais fazendo suas metamorfoses, enquanto ele nunca criou asas.

O ambiente da vida suburbana intensifica o incômodo, pois ao mesmo tempo em que esta comunidade não toca mais no assunto e tenta silenciar o passado, há aqueles que sempre lembram ao casal do que aconteceu, através de “presentes” indesejáveis deixados na porta de casa. Mas eles seguem na normalidade que criaram. Assim, através das atuações, dos detalhes e do entendimento da narrativa, percebemos que é um filme sobre abuso infantil. Porém, irá escancarar de uma forma que coloca o espelho para o próprio espectador, pois não terá uma resposta pronta do que pensar sobre o que assistiu e terá de digerir sozinho e para a própria sociedade. Entre seus comportamentos absurdos, há o de ser conivente com o que aconteceu.

É graças ao trabalho dos três atores que o filme se sustenta do início ao fim, pois acompanhar o desenvolvimento de seus arcos dramáticos é o que nos prende na cadeira. Ou seja, “Segredos de um Escândalo” será sempre lembrado por suas grandes atuações, mas também é impossível esquecer sua narrativa.

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