O início do espetáculo não chama tanta atenção, e isso, para qualquer crítico, é assustador. Ele se questiona: "o que estou fazendo aqui?"
Muitas vezes temos vontade de nos levantar e deixar a cadeira vazia, mas por educação e respeito aos artistas, ficamos até o final do espetáculo, contando os minutos para que ele termine o mais rápido possível.
Ao sentar em uma das cadeiras no espaço de céu aberto no Sesc Tijuca, notei uma rabeca e uma sanfona, entre outros instrumentos. Logo, pensei: "isso será animado". E não foi...
Não foi até os cinco minutos de espetáculo, porque nos oito minutos, eu já estava conectada aos artistas, ao espetáculo, absorvendo a divina fonte de diversão que a arte teatral apresenta.
Numa Polônia imaginária, Ubu mata o rei, usurpa o poder e inflige aos inimigos todo tipo de tortura, com o auxílio de instrumentos malignos, como uma máquina de desmiolar. Após aprontarem muito, Ubu Rei e Ubu Rainha fogem e aonde vão parar? Lá no Rio Grande do Norte, nos fazendo morrer de rir, cóleras de risos, muito bem-vindos.
E, para sorte do povo carioca, eles pousam aqui, no Sesc Tijuca. Se cuidem os artistas cariocas, porque são indicados. Se nas bandas de lá não existe um investimento maior para premiação, eles inteligentemente invadiram nossas praias, sendo premiados, o que penso ser justíssimo. Que reclame quem quiser reclamar! Digo mais: só não levam mais estatuetas porque não existem prêmios de criatividade!
O artista nordestino é privado de muita coisa, mas não do querer fazer teatro. Quando o fazem, atropelam como um trator. Ainda bem, porque quem ganha com isso somos nós, espectadores!
O casal Ubu nos diverte com sua saga, com a fome do poder. Em terras tropicais, os artistas, como Caju Dantas, brinca com três ou quatro personagens. É um dos artistas que nos leva a Embustônia (o nome da cidade), com a majestade cênica a seu favor. Que delícia é assistir esse rapaz! Saí do Sesc em alfa, com a interpretação desse artista nordestino, totalmente in love.
Déborah Custódio encarna um dos conselheiros do rei. Ela é expressiva e, mesmo sem querer, parece uma polonesa, nos levando a 120 anos atrás. Interessante!
Diogo Spinelli floresce no meio do espetáculo. Incrível como ele cresce e como um girassol passa a clarear ainda mais a obra. Que delícia!
Já casal de Ubu é aquilo que deveria ser: nojento! A atriz Paula Queiroz é pouco simpática e Rodrigo Bico, o mesmo. Afinal, eles não prestam muito, são os antagonistas. Estão cruéis e clandestinos, como deveriam ser! E não conseguem nos convencer a elegê-los. Ufa, estamos mudando, fascistas nunca mais!
É um espetáculo dinâmico, interativo, inteligente, que surpreende dentro da sua simplicidade, que mais parece sua marca.
O texto é inteligente. Mais que isso, feito para todos, de fácil entendimento, o que acho bom. Isso é acolhedor. Apresenta frases de Simone Beuvoir a Narcisa Tamborindeguy. Faz cócegas só de lembrar!
As músicas são autorais e conversam bem com a dramaturgia.
O cenário é montado por caixas, assim como figurinos passam a compor o personagens, com pequenas peças.
Uma toalha vira uma mesa! Sensacional! E assim seguem as construções do cenário durante o espetáculo.
Sem microfone de lapela, no gogó, eles encaram o espetáculo. Tudo muito rico, embelezado pela força da performance cênica.
São três companhias de teatro nesse espetáculo: Clowns, Facetas e As Avessas, que abastecem com saber teatral uma obra que vale a pena assistir.
Sinopse
Sabemos que o nordeste é uma fábrica de excelentes artistas, mas o Rio Grande do Norte parece que assumiu a liderança, estão em muitos estados e para sorte dos cariocas, o Rio de Janeiro é um dos destinos escolhido por eles.
A peça tem como ponto de partida os personagens Pai e Mãe Ubu, da clássica obra “Ubu Rei”, de Alfred Jarry, e suas rocambolescas armações em uma insaciável busca pelo poder. Situando-se como uma possível continuação do trabalho de Jarry, “Ubu: O que é bom tem que continuar!” desloca esses personagens para um país/lugar-nenhum com ares latino-americanos. Nesse novo ambiente, Pai Ubu e Mãe Ubu continuarão sua saga alucinada e insaciável pelo poder.
Ficha Técnica
Direção e dramaturgia: Fernando Yamamoto
Elenco: Fernando Yamamoto e compõem o elenco Caju Dantas, Deborah Custódio, Diogo Spinelli, Paula Queiroz e Rodrigo Bico
Assistência de dramaturgia: Camilla Custódio
Figurino e adereços: Marcos Leonardo
Cenário: Fernando Yamamoto e Rafael Telles
Dramaturgia musical: Marco França e Ernani Maletta
Composições: Músicas de Marco França (menos “Marcha da votação”, de Ernani Maletta) e letras de Fernando Yamamoto
Colaboradores musical: Franklyn Nogvaes, Maria Clara Gonzaga, Júlio Lima e Caio Padilha
Produção: Talita Yohana (Tayó Produções)
Serviço
Temporada: Até 2 de abril de 2023
Horários: de quinta a sábado, às 19h; e domingo, às 18h.
Local: Pátio das Tamarineiras - Sesc Tijuca
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca.
Capacidade: a definir.
Bilheteria - Horário de Funcionamento: De terça a domingo, das 9h às 19h.
Duração: 70 minutos.
Telefone: (21) 4020-2101
Valores: Grátis (PCG), R$7,50 (Credencial Plena), R$15 (meia-entrada) e R$30 (inteira).
Livre.