"Beetlejuice, os Fantasmas se Divertem" foi o filme da minha adolescência e eu adorava assistir a obra. Posso dizer que, no mínimo, assisti umas cinco vezes. Um time forte de excelentes artistas, que davam ao roteiro mais graça, muito mais brilho.
Era um filme simpático e descontraído, que caía bem em qualquer horário. Com músicas divertidas e desdobramentos engraçados. A morte passa a ser mais divertida quando assistimos ao filme. Tem a direção e roteiro do imenso Tim Burton, que carrega, em suas obras, uma peculiaridade genuína. Tim tem uma estética definida, sua identidade é bem reconhecida e seu estilo alcançou milhares de fãs pelo mundo.
O estilo de Tim cai bem no teatro, fica bem nos palcos e temos profissionais potentes para a execução das obras do artista também.
Aliás, posso afirmar que não há limites para os artistas brasileiros de teatro. Embora tenhamos bons filmes no mercado cinematográfico, penso que o teatro consegue transcender ao máxima, o que é esperado. Posso afirmar isso diante do espetáculo "Beetlejuice", que está lindíssimo, digno de palmas, embora eu tenha algumas ressalvas.
Não falar do diretor Tadeu Aguiar seria bem grosseiro da minha parte, porque falamos de um profissional que faz as estruturas do teatro tremerem quando entra em cena com a sua direção.
Basta lembrar de "A Cor Púrpura", sucesso de crítica e público. Tadeu sabe fazer teatro, sabe montar espetáculos majestosos com abundância de artistas. Ele é minucioso, com um olhar refinado. Posso dizer que assertivo. Trabalha com uma excelente equipe, sempre mostrando sua qualidade e vocação para o entretenimento.
E não falo de qualquer entretenimento, mas o que temos de melhor. Já assisti a espetáculos menores do Tadeu e, se não escrevi sobre eles, como "American Son", por exemplo, foi por não apreciar uma performance artística, no máximo, porque a plástica do espetáculo é sempre de boa qualidade.
A cenografia do espetáculo "Beetlejuice" é de Renato Teobaldo, que não economizou nas cores e nos detalhes. Um verdadeiro show de cenário. Posso dizer que, até hoje, eu não tinha vista nada igual, principalmente porque vi efeitos, o que não é algo costumeiro no nosso teatro. A iluminação e a cenografia estão juntas, se entenderam e trouxeram um show à parte para os que assistiam à obra. O mesmo cenário se transformava em espaços diferentes através da luz. Às vezes, eu falava para mim mesma: como assim? Uau! Eles acertaram!
As cores e os lugares que vi no filme: estava tudo ali, na minha frente! Obras de arte, sótão, foi um surto do cenógrafo, um surto de profissionalismo. Janelas, iluminação, cortinas, algo fenomenal.
A iluminação é de Dani Sanches. Já a conhecia. A profissional é estudiosa, sempre levanta pesquisas para talhar a sua obra de maneira mais significante. No começo da peça, durante um momento póstumo, a iluminação e a fumaça abrem portas para um espetáculo rico. Dani transforma o simples em hipnótico.
A música e a sonoplastia são trazidas por meio de uma orquestra. Um desaguar de beleza sonora. Uma delícia de musicalidade. No dia que assisti, se não me engano, era uma maestrina, que presenteou a plateia.
Figurinos: nota dez! Dani Vidal & Ney Madeira foram fiéis à obra. As roupas do Besouro Suco estavam PERFEITAS!
Agora vamos falar sobre o elenco.
É muito complexo falar de algo que já esteve no mercado. Claro que comparações serão feitas. Impossível não fazer algumas menções, e isso não é só dos artistas, mas na totalidade. Claudio Botelho trouxe uma adaptação textual perfeita, fazendo-nos lembrar do filme inteiro, que estreou em 1988. Ele foi perfeito, sem arranhões.
Mas nem tudo me causou a mesma sensação, ou superou minhas expectativas. Não que desmereça a obra, mas que também não cooperou com ela como eu esperava. Fui à procura da personagem Lidia, por meio de fotos, e encontrei uma Lidia mais consoante a personagem que uma vez me encantou, aquela desenhada iconicamente por Winona Ryder. Esperava uma personagem pouco simpática e infantilizada, alguém mais séria, sem muitos sorrisos, uma personagem sisuda. Senti muito a falta dessa personagem, que me encantou, no final da década de oitenta.
Senti também a ausência de uma atriz mais altiva no papel da personagem Delia, já que gostaria de ter reassistido àquele jeito meio esnobe. A atriz que encarnou a personagem não conseguiu assentar com o personagem. Isso foi o que senti, mas, por ser uma releitura teatral, tudo é possível. Porém, por ser muito fã do filme, eu esperava algo mais próximo de alguns personagens. E assim foi com o ator Joaquim Lopes também.
De contrapartida, Helga trouxe a Bárbara certa, aquela angelical personagem, vivida por Geena Davis. Helga está belíssima, com o corpo, com a voz, tudo está de acordo. Posso dizer que está apaixonante e delicada, embora Helga seja uma atriz potente, firme no palco. Ela é dominante. No entanto, soube conduzir seu personagem de forma divertida e mais leve!
Marcelo Lahan atua ao lado dela, como Alec Baldwin no filme. Um personagem mais confuso, bem posicionado. Mesmo que ainda um pouco bobo, como deve ser, ele leva o espetáculo como deveria ser. Nem mais e nem menos.
Quanto a Eduardo Sterblicht, penso não haver outro artista que tenha tanta eficácia para desenhar esse personagem. Michael Keaton, em Besouro Suco, não era odiado, tampouco amado. O Besouro Suco era um personagem que não amávamos, mas a obra, sem ele, não teria graça nenhuma. Eduardo foi o artista certo. Conheço uma larga quantidade de pessoas que não gosta do trabalho do artista e outras que adoram. Logo, o Besouro Suco tinha que estar nessa linha de predileção.
Debochado, imprestável, divertido, porque tudo isso é o personagem, além de malicioso, perverso, simpático. UM DOS MELHORES PAPEIS DE MICHAEL KEATON. Jamais será esquecido. E Eduardo soube seguir a linha, por natureza.
Ele chegou extremamente irreverente. Como deve ser!
Gostei foi muito.
Não posso deixar de mencionar que esperava uma cena com o artista Tauã Delmiro e Eduardo. Tauã está em uma excelente fase. Todos os que vão ao teatro no Rio de Janeiro sabem do que falo. Portanto, teríamos uma cena muito rica.
Vou abrir uma aspa muito importante aqui. Usar São Gonçalo, para desmerecer um lugar, é, no mínimo, um comportamento pouco educado. Estive numa unidade do Sesi Firjan daquela cidade, uma escola modelo educacional de deixar qualquer bairro elitizado embasbacada. Portanto, sugiro um pouco mais de respeito e apoio aos que precisam sair da vulnerabilidade. Chacotas assim não cabem mais!
A direção de movimento, da Sueli Guerra, foi belíssima, do início ao fim. Os movimentos dos guarda-chuvas iniciais dão um “show de bola” e as caveiras também.
A direção de arte executou tudo aquilo que esperávamos do filme. O homem com a cabecinha, o monstro que acompanha o besouro suco, a levitação de Bárbara, o time de jogadores de hóquei, tudo muito bem feito, aproximando-nos do filme.
Impossível não gostar da obra, no total.
A história do casal bonzinho que tenta, em vão, assustador os humanos que compraram a casa. Tudo certo, uma obra que chama a atenção dos olhos, uma beleza ímpar a que somente o teatro brasileiro tem chegado, com muita beleza.
A produção de “Beetlejuice” doa ingressos para ONGS, as quais os distribuem entre pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade, o que julgo muito importante. O dinheiro do incentivo dessa montagem é do povo e deve voltar para o povo.
E existe nobreza quando uma produção tem a dignidade de reconhecer as leis que nos cercam!
Viva o teatro brasileiro!
Sinopse
Após morrerem em um acidente, Bárbara e Adam Maitland se encontram presos, assombrando sua antiga casa. Quando uma nova família e sua filha adolescente, Lydia, mudam para a residência, o casal de fantasmas tenta, sem sucesso, assustar os novos moradores. Suas tentativas de assombração atraem um espírito espalhafatoso, cuja ajuda se torna perigosa tanto para o par de almas, quanto para a inocente Lydia.
Ficha Técnica
“BEETLEJUICE, O MUSICAL, O MUSICAL, O MUSICAL” tem libreto original de Scott Brown e Anthony King e música de Eddie Perfect. A versão brasileira é de Claudio Botelho. A ficha técnica é repleta de grandes nomes do teatro musical: Laura Viscontti (direção musical), Renato Theobaldo (cenografia), Dani Vidal & Ney Madeira (figurino), Sueli Guerra e Roberta Serrano (direção de movimento/coreografia), Dani Sanches (desenho de luz), Gabriel D´angelo (desenho de som), Anderson Bueno (visagismo) e Lucas Pimenta (assistente de direção).
A montagem brasileira tem um super elenco de 26 atores. Além de Sterblitch, Ana Luiza Ferreira (Lydia Deetz), Helga Nemetik (Barbara Maitland), Marcelo Laham (Adam Maitland), Flávia Santana (Delia Deetz), Joaquim Lopes (Charles Deetz) formam o núcleo principal do musical. João Telles (alternante Beetlejuice), Lara Suleiman (alternante Lydia Deetz), Laura Visconti (cover Barbara Maitland), Gabi Camisotti (Skye e alternante Lydia Deetz), Pamella Machado (Miss Argentina e alternante Barbara Maitland), Tabatha Almeida (ensemble e cover Lydia Deetz), Thiago Perticarrari (ensemble e cover Adam Maitland), Léo Rommano (ensemble e cover Charles Deetz), Ana Araújo (ensemble e cover Delia Deetz e Maxine) completam o elenco.
SERVIÇO:
LOCAL: Cidade das Artes - Grande Sala
CLASSIFICAÇÃO: 10 Anos
DURAÇÃO: 2h30min (com intervalo de 15min)
TEMPORADA: Até 10/12
DESCONTOS:
- Beetlejuice (Desc. 30%): Promoção destinada apenas para colaboradores da produção do evento.
BILHETERIA:
- Vendas presencial e on-line pelo site/app da Sympla.
- Terça a Domingo de 13h às 19h. Porém, nos dias de espetáculos, o funcionamento se estenderá até meia hora após o início da apresentação.
*MEIA-ENTRADA: CONFIRA AS REGRAS DA LEI DE MEIA ENTRADA - https://bileto.sympla.com.br/meia-entrada/