O espetáculo "Sra. Klein" é uma obra magnífica, uma verdadeira aula de teatro. O teatro nunca vai acabar, sabe por quê? Porque, como afirma Bibi Ferreira, o teatro é simples.
A sede daqueles que ocupam as poltronas de um teatro é assistir montagens boas, não um show pirotécnico. É exatamente o que encontramos quando vamos assistir à obra: um belo espetáculo.
O texto poderia ser monótono, por ser denso, mas não é. Muito pelo contrário, desperta questionamentos e muita curiosidade para sabermos como vai acabar aquela troca de farpas.
O diretor Victor Peralta não peca, mesmo com um palco largo e com um cenário minimalista: duas filas de cadeiras de madeira envernizadas, com aspectos saudáveis, de cadeiras novas, ambientam muito bem. Nelas também repousam os objetos de cena. Mesmo sem a utilização de fumaça, afirmo que não temos a sensação de vazio, impressões de cenário mal-acabado ou tecidos mal colocados. É tudo muito seco, onde a elegância permeia.
Os movimentos das atrizes também auxiliam muito na estética visual da obra. A direção de movimentos de Toni Rodrigues está sintonizada com a direção artística. Elas se movimentam perfeitamente, com seus corpos eretos, movimentos que falam de suas personagens também. Incrível esse trabalho!
A iluminação de Bernardo Lorga e a sonoplastia do Marcelo H são resumidas no "menos é mais". A iluminação segue na direção de refletores potentes e sem tantos movimentos, mas os que são levados à mesa de luz são impactantes e suficientes. Perfeito! O mesmo posso dizer da sonoplastia: casou-se com o desenho de luz e foram felizes em seus fazeres teatrais.
Karen, a figurinista, também é perfeita, como tem sido nos seus últimos trabalhos. "Os figurinos da Karen Brusttolin remetem aos anos 1930, mas também dialogam com a moda de hoje”, segundo o diretor Peralta. A figurinista desenhou e executou com perfeição rendas, veludo, tons adequados, tudo belíssimo e também muito elegante. Botas, luvas e casacos transbordam beleza. Posso dizer que a impressão é que o acabamento dos figurinos são feitos com linhas de ouro.
As Três Marias são estrelas azuis de poderoso brilho, muito maiores que o Sol. A maior delas, claro, a Alnilam. Eu poderia chamar também de Ana Beatriz Nogueira. É impactante, mas abro uma observação. Que me perdoe a atriz, que faz do teatro a sua segunda casa, mas dessa vez a duas estrelas Natália Lage e Kika Kalache resolveram brilhar tanto quanto a Alnilam.
A Natália é simplesmente um deleite cênico e Kika - ah, a Kika! - é um presente para nós. Sua personagem tem nuances de comicidade muito bem-vindas.
As Três Marias fazem parte da constelação de Órion no céu. Aqui na Terra estão no Shopping da Gávea, com a direção de Victor Peralta.
São brilhantes as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka ou Ana Beatriz Nogueira, Natália Lage e Kika Kalache. Iluminam o céu e o palco. Três atrizes que orientam e ensinam como fazer teatro em suas atuações, assim como as Três Marias no céu, que orientam a localização das outras estrelas.
O texto é relevante por apresentar uma disfunção familiar e desdobramentos inesperados. Não traz um divã ao palco, mas responde a muitas críticas de renomados psicólogos do mercado, que afirmam que a ideia de falar de si sem trocar olhares com os pacientes causa desconforto e atrapalha o fluxo da fala e da análise do profissional.
Não é à toa que o espetáculo segue e ainda é indicado a importantes prêmios do teatro brasileiro!
Sinopse
Embora ambientado há quase 90 anos, o texto do autor inglês Nicholas Wright segue atual, como atesta o diretor, Victor Garcia Peralta: “a história é sobre uma família disfuncional, a relação tóxica entre mãe e filha. O público vai se identificar demais porque sempre há dificuldades nesses vínculos”.
Ficha Técnica
Texto: Nicholas Wright
Tradução / adaptação: Thereza Falcão
Direção: Victor Garcia Peralta
Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Natália Lage e Kika Kalache
Cenário: Dina Salem Levy
Figurinos: Karen Brusttolin
Iluminação: Bernardo Lorga
Trilha sonora: Marcelo H
Direção de movimento: Toni Rodrigues
Visagismo: Rafael Fernandez
Coordenação de produção: Eduardo Barata
Direção de produção: Elaine Moreira
Produção executiva: Victor Mello
Serviço
SRA. KLEIN
Teatro das Artes
Temporada: Até 25 de Fevereiro
Horários: Quinta a Sábado às 20h, Domingo às 18h
Ingressos Quinta feira: R$ 100 (inteira) R$ 50 (meia)
Ingressos Sexta sábado e domingo: R$ 120 (inteira) R$ 60 (meia)
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 14 anos