Rio de Janeiro/RJ - Na manhã desta quarta-feira, 31/08, a Polícia Federal, após intenso trabalho de cooperação policial internacional, deflagrou uma nova fase da operação Kryptos que resultou na prisão de duas foragidas, já denunciadas por crimes contra o sistema financeiro nacional e organização criminosa. Chefiado por Glaidson dos Santos e a esposa venezuela, Mirelis Zerpa, o esquema chegou a movimentar R$ 38,2 bilhões entre 2025 e 2021.
As presas - uma brasileira e outra venezuelana - foram localizadas pelo Escritório Central da INTERPOL em Santo Domingo, na República Dominicana. No momento da prisão, elas estavam na companhia de seus respectivos maridos brasileiros, também denunciados na Kryptos, porém com mandados de prisão revogados por decisão judicial. As mulheres, que aguardam o processo de extradição, eram operadoras do esquema e organizavam a parte administrativa da empresa, inclusive sendo responsável pelos pagamentos.
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o empresário Glaidson dos Santos, a esposa dele Mirelis Zerpa e mais 15 pessoas pelos crimes de organização criminosa; operação de instituição financeira sem autorização; gestão fraudulenta; e emissão, oferecimento ou negociação irregular de valores mobiliários. Glaidson é acusado de comandar um esquema de fraudes bilionárias a partir de sistema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas.
As investigações, realizadas no escopo da operação Kryptos, revelaram a magnitude do esquema criminoso. Pelo menos R$ 38,2 bilhões foram movimentados entre os anos de 2015 e 2021 no Brasil e no exterior. Um relatório de inteligência financeira identificou operações com ao menos 6.249 pessoas físicas e 2.727 pessoas jurídicas. Aproximadamente R$ 16,7 bilhões, 44% do total, foi movimentado nos últimos 12 meses em operações vinculadas à GAS Consultoria. Segundo a denúncia, a organização criminosa atuou em sete países: Estados Unidos da América, Reino Unido, Portugal, Uruguai, Colômbia, Paraguai e Emirados Árabes Unidos.
Sem registro nos órgãos competentes para operar no mercado financeiro, a GAS Consultoria divulgava por diversos meios e oferecia aos clientes rendimento fixo de 10% com investimento exclusivo em bitcoin. No entanto, as investigações revelaram que a empresa aplicava o dinheiro dos investidores em produtos diversos, como serviços bancários tradicionais e em outras criptomoedas com volatilidade diversa do bitcoin. Também não fornecia informações claras sobre o retorno e os riscos do investimento, o que caracteriza a gestão fraudulenta de instituição financeira. Áudios encontrados a partir do afastamento do sigilo telemático demonstraram que Glaidson e os demais denunciados sabiam que a atividade desempenhada exigia autorização do Banco Central (Bacen) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A organização criminosa possuía uma espécie de plano de carreira, com ao menos quatro cargos: sócios diretores (Glaidson e Mirela), responsáveis pela gestão estratégica e financeira do esquema; sócios administrativos, responsáveis por bancas que funcionavam de maneira similar a uma filial ou um franqueado; associados, que prestavam apoio direto aos sócios; e consultores, a quem competia a prospecção e a assistência direta de clientes, bem como o tratamento de toda a burocracia inerente aos contratos, da assinatura ao resgate.
Outros denunciados - Além de Glaidson dos Santos e Mirelis Zerpa, foram denunciados o consultor Michel Magno, os sócios administrativos Felipe Novais, Kamila Novais, Tunay Lima, Márcia dos Anjos, Vicente Gadelha, Andrimar Vergel, Paulo Lana, Kelly Lana, João Marcus Dumas, Larissa Dumas, Guilherme de Almeida, Alan Soares e Diego Vieira, bem como sua esposa, Mariana Cordeiro, que auxiliava na ocultação e dissimulação de valores.
A denúncia foi recebida pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O Grupo Especializado de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Gaeco) atua em auxílio ao procurador da República natural do caso e as investigações continuam quanto a pessoas e crimes ainda não denunciados.
Gaecos federais – No âmbito do Ministério Público Federal (MPF), os Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) são grupos operacionais com a função de identificar, prevenir e reprimir o crime organizado, auxiliando membros da instituição no combate à criminalidade organizada em âmbito nacional, pela realização de investigações criminais em conjunto com a polícia judiciária ou por meio de procedimento próprio, com prioridade à integração, parceria, mútua cooperação, compartilhamento de informações e, quando necessário, atuação conjunta em âmbito regional e nacional, conforme o caso.
Ação Penal nº 5105179-28.2021.4.02.5101
Polícia Federal e Ministério Público Federal